Hawaii | +Filme
Eu não sei mas na minha opinião, quem conhece os anteriores filmes do realizador Marco Berger, irá com certeza gostar deste “Hawaii”. Eu já tive oportunidade de ver alguns dos seus filmes, como “Plan B” e “Ausente” e cá para mim, este seu último filme realizado em 2013, é sem dúvida alguma o melhor da sua carreira como realizador.
Tenho no entanto que confessar que houve alguns aspectos no filme que não foram muito do meu agrado – como por exemplo a banda sonora – e para ser sincero, não percebi muito bem o porque do filme chamar-se “Hawaii”. É certo que bem próximo do fim do filme, é feito uma referência ao nome mas não acho que essa referencia tenha sido o essencial para dar ao filme o nome de “Hawaii”. E para mim faz-me alguma confusão um nome de um filme não ter nada a ver com a história. E como ultimamente tenho optado por arriscar em ver novos filmes, sem nunca antes ter visto o trailer deles, eu confesso que estava confiante de que o filme iria passar-se no Hawaii, coisa que não é verdade. Mas não se passando no Hawaii, o filme conta na mesma com um cenário maravilhoso, muito bem captado pelo realizador.
Neste filme voltamos a encontrar um dos actores que já trabalhou com o realizador. Em “Plan B” tínhamos um Manuel Vignau, disposto a inventar todas as desculpas e mais algumas, apenas para conseguir beijar o seu amigo. Agora em “Hawaii”, Manuel Vignau interpreta Eugénio, um personagem que pouco ou nada sabemos acerca dele mas que no decorrer da história vamos descobrindo. Para conseguir ter tempo e arranjar inspiração para um livro que está a escrever, Eugénio refugia-se na casa dos tios, a mesma casa onde durante a sua infância, passou todos os verões. Apesar da solidão inicial, tudo muda quando ele reencontra um amigo de infância, que lhe bate à porta a pedir um trabalho de verão. Esse amigo é Martín (Mateo Chiarino), que após vários anos de ausência, regressa a sua terra natal na esperança de encontrar estadia na casa de uma tia. Ao não encontra-la e sem ter mais família a quem recorrer, Martín passa a viver na rua e a fazer alguns arranjos na casa de Eugénio. Ao perceber que também Martín vive num mundo de solidão, Eugénio convida-o a viver na sua casa e os dois, aos poucos vão reconstruindo a amizade de infância mas entre os dois, sem nunca ser dito nada em palavras, começam a sentir um pelo outro algo mais do que uma mera amizade.
Uma vez mais Marco Berger abdica praticamente dos diálogos para criar uma história com cerca de mais de uma hora e meia de filme. Mas aqui os diálogos nem são tão necessários. Para perceber o que vai na cabeça de cada um dos dois protagonistas, basta estar atento ao silêncio, aos constantes olhares, as atitudes de ambos e às carícias disfarçadas de meros toques ao acaso. Num jogo de sedução onde não há espaço para as palavras, o realizador brinca com isso gerando vários momentos de provocação. Aliás! Marco Berger é perito em provocar-nos e durante todo o filme isso é constante. Sem nunca ser explicitamente referido o que um quer do outro, a verdade é que dá para perceber o intenso desejo que os dois sentem um pelo outro e a todo o momento a gente fica a pensar: mas quando é que eles se agarram, quando é que eles se beijam, quando é que eles terão o seu momento de amor/prazer? Enfim! O filme em certo ponto chega a ser frustrante, pois quando um dá um passo nessa direcção, parece que tudo volta atrás e dá mesmo a sensação de que o filme irá terminar sem que esses momentos aconteçam. Mas a intenção do realizador talvez seria mesmo essa. Provocar-nos e dar a entender que para criar uma bela história de amor, não é necessário recorrer aos beijos, aos abraços e as cenas de sexo. E embora isso seja um pouco revoltante para algumas pessoas – incluindo eu – a verdade é que está aqui um excelente trabalho por parte do realizador e dos protagonistas.