Tenho andado triste. Ou melhor, a palavra correta não é «triste». Não é a tristeza que me anda a incomodar ao longo desses dias. É algo pior. É algo bem mais forte, bem mais doloroso do que a tristeza. E eu sei disso. Tenho a perfeita noção do que me anda a incomodar, dia após dias, noite após noite e talvez por isso, tenho até medo de falar acerca deste delicado assunto. Não falo com os meus familiares, não falo com os meus colegas, não falo com a minha médica e nem mesmo tenho coragem de falar comigo mesmo. Não tenho coragem de confrontar essa verdade. Sim! Porque eu sei que é verdade. Eu sinto o que antes eu já senti. Tento disfarçar aquilo que eu sei que já não consigo disfarçar. Tento levantar-me e manter-me de pé, mas… sinto-me sempre no fundo de um poço. Num buraco, tão fundo, tão escuro, tão assustador e onde sou eu e os meus fieis horrores estão presentes. E por muito que eu até queira sair desse buraco, eu não consigo. Não tenho forças. Doí-me tudo e tudo me faz ficar em baixo. Sofro, mas não consigo gritar, não consigo chorar… não consigo! E esse sentimento não é tristeza. É algo que eu conheço muito bem. É DEPRESSÃO…
Há uns anos atrás, e nem foi há tantos anos assim, eu passei por uma terrível depressão. Daquelas em que diariamente eu nem conseguia levantar-me da cama. Simplesmente queria ficar lá a vida toda, pois levantar-me para a vida era algo que para mim não fazia sentido. Cheguei na altura a ser acompanhado por uma psicóloga, mas nem isso impediu que num belo dia, eu tentasse pôr um fim definitivo a toda a minha dor. Depois desse triste episódio que deixou profundas marcas na minha vida e na vida de quem me é mais próximo, para além da psicóloga, comecei a ser também acompanhado por uma psiquiatra que me receitava a medicação para ver se pelo menos a dor interna e constante dentro de mim, desaparecia por completo. Aqueles foram momentos muito maus. Momentos em que até custa lembrar-me deles. Até custa falar deles, mas na altura consegui superar a dor. Livrando-me de más influências e de todos aqueles que me faziam sentir ainda pior, eu comecei a olhar para a vida de outra forma. Nas pequeníssimas coisas, comecei a ver que tinha tudo para ser feliz. E quando falo das pequenas coisas, estou a falar da minha pequena sobrinha. Ela foi a minha salvação! Para conseguir viver neste mundo, onde tudo parece que foi feito para me ferir, eu agarrei-me com unhas e dentes aquele pequeno ser. Um ser iluminado que não tinha noção da escuridão que estava dentro de mim. E nem sequer tinha noção de que um simples sorriso seu, fazia o sol brilhar com todo a intensidade no meu coração. Ela foi a minha salvação. Ela fez com que eu me levantasse da cama, com que eu agisse e quando dei por mim, graças a minha pequena sobrinha, que é a Rainha da minha vida, não vi mais sinais da depressão. Como se ela própria fosse um poderoso medicamento, ela curou-me do mal, da dor, da escuridão e deu-me razões para viver e… ainda dá! Mas a escuridão voltou. A dor está novamente dentro de mim. O medo, o horror, os maus pensamentos estão novamente a invadir território que, aparentemente já estava curado, mas parece que tudo está a voltar. E nos dias em que eu estou mais em baixo, eu penso nela. Penso muito na minha sobrinha. As vezes até fecho os olhos e lembro-me de como é o seu radiante sorriso. De como é a sua delicada voz que faz magia nos meus ouvidos. De como é a sua graciosa gargalhada que enche todo o meu coração de alegria. Eu penso! Eu sinto! Tento matar saudades e penso que tudo fica bem, mas… a escuridão mantém-se. A dor ainda aperta o meu coração. Os maus pensamentos estão de volta…
Todos os dias tenho acordado a dizer que isso é apenas uma fase. Que logo, logo as coisas vão passar e o sol vai brilhar novamente dentro de mim mas, isso sou eu a querer enganar-me a mim próprio. Gostava que isso fosse só uma fase. Que fosse apenas por causa dessa época natalícia que eu tanto odeio e que inevitavelmente todos os anos me coloca em baixo, mas a verdade, é que já tenho andado assim com esses sentimentos há já algum tempo. Tenho é tentado ignorar os sintomas. Tenho fugido da verdade, mas… Sinto que não tenho mais pés para continuar a fugir. A minha vida estagnou. Estou parado num cruzamento onde todas as direções vão sempre parar ao mesmo sítio, a depressão. No outro dia, numa consulta de rotina com a minha médica de família, estive para falar-lhe desses meus sintomas, mas acabei por não ter coragem. Achei que, assim que falasse do assunto, ela iria simplesmente achar que esse era apenas mais um capricho da minha parte. Porque infelizmente é assim que muitos pensam. Acham que a depressão é apenas um capricho de quem não tem mais nada do que fazer. Sei que essa não é de todo a opinião da minha médica, mas mesmo assim não tive coragem de falar. Devia, mas não consegui! Mas felizmente consegui falar aqui…
Tenho estado ausente desse espaço e isso é porque obviamente não tenho tido cabeça para estar por aqui. Algumas coisas têm sido publicadas, pois já estavam programadas para isso mas não sei se tão cedo vou conseguir voltar aqui. Não sei bem o que vou fazer nos próximos dias mas dar atenção a este blog, eu sei que é coisa de que eu não vou ser capaz. Por isso, sem saber o que mais dizer, agradeço a todos os que por aqui passaram e… até a uma próxima…