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Num só blog, está tudo aqui! O MORE tem desabafos/opiniões em relação a mim e ao que se passa à minha volta. Tem sugestões de cinema, televisão e não só. E tem mais, muito mais...

19
Nov16

El Tercero | +Filme

El Tercero.jpeg

 

Aqui estou eu para deixar-vos com mais uma sugestão de cinema em casa e com uma temática gay. E a sugestão de hoje trata-se de um filme que não chega a ser mau de todo. Acredito que ele não seja apreciado pela grande maioria de vocês mas apesar de ser um pouco estranho, houve partes nele que eu até gostei e sendo assim, acho que fazia todo o sentido deixar aqui a minha recomendação.

 

Já vi esse filme há uns tempos atrás, numa altura em que quando procurava um outro filme, dei de caras com esse e mesmo sem saber muito em relação a ele, sem nunca ter espreitado o seu trailer, assim às escuras resolvi assisti-lo e creio que não me arrependi. Claro que o filme não foi uma grande surpresa para mim, pois eu até já tinha lido a sinopse que circula pela net e praticamente, com aquilo que lemos, já dá para prever que não devemos esperar muito do filme mas valeu a pena. Houve momentos no filme demasiado chatos e longos mas no geral, o filme até agrada.

 

Realizado por Rodrigo Guerrero, o filme conta com a presença de um actor Argentino que já nos habituou com a sua presença em filme de temática gay. Quem está atento a esse tipo de filmes, irá com certeza reconhecer o actor Carlos Echevarría de filmes como Ausente (2011) e Solo (2013). Em EL TERCERO, o actor contracena ao lado de mais dois actores e tal como o próprio nome do filme indica, este filme conta apenas com a presença de três actores que ao longo de 70 minutos, contam uma história dividida em três partes.

 

O filme começa numa sala de chat, onde o jovem Fede (Emiliano Dionisi) conhece um casal, Franco (Nicolás Armengol) e Hernán (Carlos Echevarría). Entre os três parece haver uma química logo de imediato e por isso, Fede é convidado a passar pela casa do casal, afim de terem todos juntos uma noite bem agradável. A cena do chat é longa, estranha, um pouco aborrecida mas sejam resistentes. Não desistem logo à primeira pois já em casa dos dois homens, que já vivem juntos há alguns anos, passa-se depois uma longa cena na sala de jantar, onde os três, à medida em que vão jantando, vão conhecendo um pouco a história de cada um deles. Essa cena pode ser novamente longa, pode ser demasiado parada, mas acaba por ter diálogos interessantes e confesso que foi das partes do filme que eu mais gostei. Depois desse longo jantar, dessa longa conversa entre eles, surge a parte final do filme e que já todos esperavam que iria acontecer, o momento em que os três iriam partilhar a mesma cama e ter uma noite de amor/sexo/prazer, um momento que irá para sempre mudar a vida de cada um deles.

 

 

O filme não promete muito, não quis ser muito ousado mas mesmo assim, na minha opinião, tratando-se de um filme realizado por alguém que ainda não tem muito experiência com longas-metragens, o resultado final até foi agradável. Claro que não vale a pena criar altas expectativas em relação a ele mas este El Tercero acho que merece a nossa atenção. É claro também que este não é o tipo de filme para se ver em família, devido a cena carnal entre os três (se bem que o filme não mostra nada de especial) mas olha, aqui fica a sugestão e caso decidam assisti-lo, partilhem aqui comigo a vossa opinião.

18
Nov16

Eu Sou Gay | Episódio 4 | A Resposta

EuSouGay_Episodio04.jpg

 

O silêncio incomoda-me. O silêncio assusta-me. Mais ainda quando eu lhe faço uma questão e da sua boca não saem palavras. Sei que ele ouviu muito bem a minha questão. Sei que não existe a necessidade de repetir-lhe, mas só não sei o porque desse silêncio. E isso está a matar-me por dentro. E eu até nem lhe fiz uma pergunta complicada. Para responder à minha questão, bastava apenas dizer ‘sim’ ou então dizer ‘não’. Aqui o ‘talvez’ nem sequer se põe. Fiz-lhe uma pergunta simples, com uma resposta talvez ainda mais simples, mas… ele não responde. Preferiu ficar em silêncio. Será que já cometi um erro? Um erro gravíssimo ao meter-me em coisas que não me dizem respeito? Não! Tudo o que diz respeito a ele, também a mim me diz respeito.

Enquanto que eu estava sentado na minha cama, de olhos fixos a ele e à espera de uma resposta, ele limitava-se apenas em estar sentado na minha cadeira giratória, onde girava sem parar e tinha os olhos postos no seu telemóvel. Não percebi se trocava mensagens com alguém ou se estava apenas a jogar. Seja lá o que estivesse a fazer, àquela sua atitude estava a irritar-me. Se há coisa que eu odeio, é que me ignorem. E não sei porque, depois de lhe ter feito a questão, ele passou a ignorar-me. E eu já estava farto disso! Tinha que acabar com esse silencio perturbador de uma vez por todas. E era agora. Agora mesmo!

— Não vais dizer nada?

Mais uma vez ignorou-me. Continuou na sua, sempre a girar com a cadeira e a divertir-se com o telemóvel.

— Para com isso e diz-me qualquer coisa.

— Eu preciso ir embora! — disse ele finalmente, parando de girar com a cadeira, ficando de frente para mim e arrumando o seu telemóvel no bolso, deixando-me estupefacto com a sua resposta.

— Como assim?

— Tenho que ir. — continuou — Já se está a fazer tarde.

Ele levanta-se da cadeira e por momentos, fiquei com a sensação de que ele iria sair porta fora do meu quarto, sem mais nada dizer e antes que isso realmente acontecesse, com algum esforço levantei-me da cama e meti-me frente da porta.

— Tu só podes estar a gozar não?

Ele parou mesmo à minha frente. Ficou à espera que eu saísse da sua frente para então sair, mas não, eu recusava-me a deixa-lo ir, sem que antes ele me respondesse. Sem que antes ele me dissesse um ‘sim’ ou um ‘não’, se bem que cá por dentro, eu rezava para que ele me dissesse um ‘não’ mas nada, ele não dizia rigorosamente nada.

— Eu fiz-te uma pergunta.

— Eu sei! — disse ele.

— E então?

— E então o quê?

— Não me vais responder?

Ele olhou para mim. Olhou-me nos olhos e não sei explicar, mas algo no seu olhar estava diferente. Ele estava diferente. Tão diferente que já não se importava com as minhas perguntas.

— Eu preciso ir Rui. — disse ele. — Prometi à minha mãe que hoje chegava cedo a casa. Agora se me dás licença eu…

— A sério?! — disse eu ainda mais surpreso com a sua tamanha indiferença. — A sério que não me vais responder?

Ao ver que eu quase nem conseguia equilibrar-me diante da porta, ele gentilmente agarra numa das minhas muletas e entrega-me para eu me apoiar direito. Depois, sorriu para mim. Mais uma vez disse-me para eu ficar bom o quanto antes e sempre de forma bastante educada, depois disse ainda:

— Por favor sai-me da minha frente. Eu preciso ir…

Da minha boca ele já não ouviu mais nenhuma palavra. Com o apoio da muleta, desviei-me da porta e ele de imediato abriu, não sei se era para ir embora e chegar realmente mais cedo a casa, ou se a intenção era fugir à minha questão. Seja qual fosse o motivo, a verdade é que ele estava mesmo a ir embora, mas não sem antes dizer ainda:

— Vê se descanas e depois a gente amanha fala…

E saiu. Deixando-me triste. Deixando-me confuso. Deixando-me assustado e… o que tinha sido aquilo? Porque é que ele não respondeu. Porque? O que foi que eu lhe tinha feito para ele me tratar assim, com tanta indiferença?

Eu e o Carlos já somos amigos de longa data. Muito antes de eu e ele nascermos e ficarmos inseparáveis, já as nossas mães eram as melhores amigas uma da outra. Elas tinham-se conhecido no secundário, tinham ido juntas para a faculdade, tinham arranjado namorados na mesma altura e mais tarde casaram-se, compraram um apartamento no mesmo prédio, ficaram grávidas na mesma altura e eu e o Carlos tínhamos nascido com alguns dias de diferença. Por isso, a minha amizade com o Carlos já vinha de longe. Desde que nascemos, tornamo-nos inseparáveis. E mesmo agora, que a sua mãe se tinha divorciado e arranjado uma outra casa a cerca de meia hora de distância da minha, eu e ele estávamos sempre juntos. Continuávamos a frequentar a mesma escola e desde a primária que eramos colegas de turma. Hoje, tanto eu como ele já tínhamos 16 anos. Ambos tínhamos passado para o 12º ano e apesar da amizade entre nós continuar firme como uma rocha, eu sentia. Sentia que aos poucos algo andava a ficar diferente. Não sabia se era eu, ou se era ele que estava diferente, mas… acho que era ele. E o facto de não responder à minha questão, já dava provas de que sim, ele estava diferente. E isso deixava-me confuso. Deixava-me assustado. Deixava-me triste pois ao contrário dele, que tinha uma série de outros amigos, eu tinha uma enorme dificuldade em criar outros laços de amizade. Se ele por algum motivo que fosse, desaparecesse de repente da minha vida, eu ficaria completamente só. Perdido no mundo. Sem amigos, sem conseguir respirar, sem conseguir andar, sem conseguir viver. Meu Deus! Que drama! Sim! Sou dramático! E neste momento, qualquer cenário que pinto na minha cabeça, tem sempre o mesmo resultado. Já não somos crianças. Estamos a crescer e a tornarmo-nos uns verdadeiros homenzinhos e por isso, mais cedo ou mais tarde, cada um vai para lados opostos. E a sua falta de resposta já diz isso tudo. Por muito que me custe, eu sinto que enquanto eu continue em frente para o sul, ele encontrou algo diferente e talvez melhor, lá para os lados do norte.

Ao contrário do Carlos que é o popular lá da escola e o melhor jogador de futebol, eu e o desporto nunca fomos lá grandes amigos. Por isso, já seria de se esperar que eu fosse um zero à esquerda no que diz respeito ao futebol. Sempre que possível tento evitar jogar, pois graças a ele, um dia quase parti a cabeça, já tive quase para partir o braço por ser tão desastrado no campo e no último dia de aulas, o pior realmente aconteceu. Para decidir quem era a melhor turma a jogar futebol entre o 11ºA e a minha turma, o 11ºB, foi organizado um torneio de futebol. O professor de Educação Física, que era o mesmo em ambas as turmas é que organizou tudo. Iria ser uma partida amigável, apenas para acabar de uma vez por todas com a rivalidade que sempre houve entre as duas turmas, ao longo de todo o ano. Inicialmente iria ser um jogo misto, onde ambas as equipas tinham que ter elementos masculinos e femininos, mas ninguém gostou dessa ideia do professor. Os rapazes recusavam-se jogar com as meninas, dizendo que elas só iram atrapalhar e as raparigas, não queriam perder a oportunidade de estar nas bancadas, na primeira fila, a ver os mais populares e os mais desejados da escola a jogarem futebol, de t-shirts coladas ao corpo, de calções mostrando aquelas pernas fortes e vendo-os suar, a transpirarem sensualidade e erotismo por todos os lados, pois na verdade, muitos dos mais desejados por elas da escola, estariam naquele campo a jogar. E como é óbvio, eu não estava escalado para esse torneio. Primeiro porque não era popular o suficiente, segundo porque nenhuma das raparigas estaria interessado em ver-me jogar e o mais importante mesmo é que eu não sabia jogar. Comparando com os outros elementos da equipa da minha turma, eu nem chutar a bola conseguia, mas por incrível que pareça, lá fui parar ao campo. O torneio seria de um jogo amigável – que mais à frente mostrou-se não ser nada amigável – entre cinco a cinco. O problema, é que o quinto elemento da minha turma resolveu faltar à ultima da hora e não havia mais nenhum rapaz que quisesse jogar. Todos estavam era desejosos para irem para casa, dar inicio às férias e por isso, acabou por sobrar para mim. E como por hábito, nunca recuso nada do que o Carlos pede, assim que ele pediu – ou melhor, implorou – eu lá acabei por aceitar fazer parte daquela loucura. E digo bem! Foi mesmo uma loucura! Eu fiquei na defesa na esperança de que os meus companheiros não deixassem ninguém se aproximar de mim e pelo menos, durante a primeira parte do jogo, tudo estava a correr bem. A minha equipa tinha já marcado dois golos, um deles marcado pelo Carlos. Golo esse que o Carlos festejou de maneira muito especial. Um golo que foi dedicado a alguém que estava euforicamente a assistir nas bancadas. Alguém que nem sequer era daquela escola, que nem sequer devia lá estar mas que mesmo assim, fez com que o Carlos marcasse um golo em sua honra e sim! Foi durante esse jogo estúpido que eu percebi que as coisas começavam a ficar diferentes. Foi durante esse jogo que eu percebi que tanto eu como ele estávamos a caminhar em direções opostas. E isso tirou-me do sério. Tirou toda a concentração que eu já nem tinha naquele campo, ao ponto de nem sequer perceber que de repente, a bola para por entre os meus pés. E agora? O que é que eu faço? Nem tive tempo para pensar. Quando dei por mim, o brutamontes do Beto, o popular da outra turma, aproxima-se de mim e sem dó nem piedade, dá um valente pontapé no meu pé. Sim! Em vez de acertar na bola, o brutamontes-estúpido-zarolho, acertou com toda a força no meu pé, ao ponto de fazer-me cair e a ver estrelas. Ele mais tarde, já no hospital, depois do jogo ter terminado de imediato, pediu-me desculpas e disse que foi sem querer. Mas eu não acreditei nas suas palavras. Eu não ia com a cara dele, assim como ele também não ia com a minha. Por isso, quando pediu desculpas por ter partido o meu pé, eu não acreditei nas suas sinceras desculpas. Fiquei com uma raiva dele que só me apeteceu partir-lhe todo. Graças a ele, o meu verão ia ficar completamente arruinado. E logo agora, que eu e o Carlos tínhamos tantos planos para esse verão, eu estava com o gesso no pé. Um gesso que me ia acompanhar diariamente, por todos os meus dias de férias mas… O pior não foi o gesso. O pior não foi a dor que eu senti ao ver o meu pé partido. O pior não foi a raiva que tive do Beto por me ter feito aquilo. O pior mesmo foi o Carlos. O pior foi mesmo o meu melhor amigo, em vez de ficar ao meu lado no hospital, ter optado por ficar com a pessoa a quem ele tinha dedicado o golo. O pior, foi ele não ter sido o primeiro a assinar o meu pé engessado, porque naquele dia, tinha optado por ter uma tarde diferente com alguém que não era eu. O pior de tudo, foi eu ter-lhe feito uma pergunta e ele não ter dado uma resposta. E agora? Será que ele irá continuar a ser o meu melhor amigo?

Depois do dia em que lhe fiz a pergunta no meu quarto, o Carlos praticamente sumiu da minha vida. Eu tinha-lhe feito a pergunta numa quinta e depois, apesar dele ter dito que a gente depois se falava, a verdade é que ele não apareceu mais em minha casa. Não ligou. Não mandou mensagens pelo whatsapp. Não deu sinal de vida. Nem nesse dia, nem na sexta. Nem mesmo no fim-de-semana tive noticias dele. Na segunda nada. Na terça muito menos e na quarta foi igual. Ele simplesmente desapareceu. Não deste mundo, pois através do facebook eu via que ele continuava neste mundo e a ter uma vida que aparentemente estava a ser super animada. Ele tinha era desaparecido da minha vida. Tinha-se esquecido de uma promessa que ambos tínhamos feito quando tínhamos apenas oito anos. Tinha-se esquecido de tudo e agora, só estava era na companhia desses novos amigos. Novos amigos que nem sequer eram da nossa escola. Amigos com quem ao longo dessa semana, ele tinha ido à praia, tinha ido à piscina, tinha ido ao cinema e até tinha ido ao Jardim Zoológico e retratado todos esses momentos na sua página do facebook. Enquanto que eu, no meu quarto sofria não só por causa das dores no pé, ele divertia-se sem nem sequer se lembrar que eu existia.

Houve um dia em que eu até tentei sair de casa para ir bater-lhe à porta, mas não consegui. Por muito que tentasse, eu não conseguia ajeitar-me com aquelas moletas. Estava furioso, revoltado, mas não havia nada que eu pudesse fazer. E apesar de em casa todos encherem-me de mimos, desde o meu pai à minha mãe que estavam ambos mais carinhosos comigo, desde à minha irmã mais velha, que tinha abdicado de uma semana de férias no Algarve com as suas amigas da faculdade para estar comigo, até à minha irmã mais nova, que sempre que podia, estava enfiada no meu quarto e fez-me ver com ela, todos os desenhos animados da Disney que ela já tinha visto centenas de vezes. Apesar de em nenhum momento estar sozinho, pois até o gato chato da minha irmã que me odiava, agora não parava de fazer-me visitas ao meu quarto, a verdade é que eu sempre me sentia sozinho. E sentia-me culpado por isso. Talvez se eu não o obrigasse a dar uma resposta, ele não teria fugido. Não teria se afastado. Talvez ter-me-ia dito algo naquela noite. Ter-me-ia convidado para ir a praia, à piscina ou ver os animais. Talvez se eu não tivesse perguntado, ele teria feito de tudo para me incluir nas suas férias. Teria arranjado uma cadeira de rodas se fosse preciso, apenas para ser mais fácil eu movimentar-me ou então, ter-me-ia levado às cavalitas, tal e qual como fazia quando ambos brincávamos quando eramos miúdos. Ele sempre foi mais forte do que eu. E para provar que era mais forte, muitas vezes levava-me às cavalitas até ao 3º andar do meu prédio. Um prédio que não tinha elevador e que por morar no último andar, teria que subir imensos degraus até chegar a casa. E preguiçoso como eu era, isso sempre foi um verdadeiro tormento para mim. Até hoje ainda é! Mas quando eramos crianças, eu e ele subíamos as escadas até ao 2º andar que era onde ele morava e depois, já cansado – ou a fingir que estava cansado – eu dizia sempre que não aguentava mais. Não aguentava subir mais escadas e ele, sempre sem pestanejar, pedia para eu subir às suas cavalitas e levava-me até à porta de casa. Fazíamos isso quando eramos miúdos, quando ambos tínhamos oito, dez anos. No entanto, há uns meses atrás ele fez o mesmo. Já nem me lembro porque, mas naquele dia eu estava super cansado. Estava a morrer e já nem conseguia dar mais um passo. Ao ver-me assim, ele pediu para eu subir para as suas cavalitas e sem hesitar, levou-me do rés do chão até ao terceiro andar. Em nenhum momento demonstrou estar cansado, demonstrou não aguentar mais, apesar de eu estar bem mais pesado do que quando tinha apenas oito anos, em nenhum momento ele parou para desistir de me carregar. Passo a passo ele levou-me até à porta de casa e… isso foi apenas há uns dois meses atrás. E dois meses depois tudo mudou. E tudo por causa de uma pergunta.

Quando fez uma semana certa em que ele simplesmente desapareceu da minha vida, assim do nada, ele reapareceu. Já era noite. Eu estava no meu quarto super furioso, pois para além do calor que não me deixava dormir, andava com umas comichões horríveis por causa do gesso. Por momentos, só tinha mesmo vontade de arrancar o meu pé. Não me importava de ficar manco a vida toda. Só para não ter aquelas comichões, eu agarrava num machado e a sangue frio arrancava aquele maldito pé que só estava a arruinar a minha vida. Mas tudo isso passou quando de repente ouvi o toque do meu telemóvel. Sem demoras peguei nele, pois lá bem no fundo sabia que tinha acabado de receber uma mensagem e não estava errado. Só mesmo ele é que me mandaria mensagens já passado da meia noite. Abri o whatsapp e sim, ele tinha finalmente enviado uma mensagem. Ao fim de uma semana em silêncio ele deu sinal de vida. Um sinal que se converteu numa mensagem que apenas dizia «Sim!» Sim o quê? Não percebi a sua mensagem. Será que ele tinha enviado aquela mensagem por engano? Será que ele andava a teclar com a outra pessoa e por engano, acabou por escrever-me um ‘sim’. Não percebi! Inicialmente tentei ignorar mas não consegui. Enviei-lhe logo uma mensagem de resposta.

«Sim, o quê?»

«Sim!» respondeu ele de imediato, acrescentando logo de seguida: «Sim! É a resposta à tua pergunta.»

Incrível! Uma semana depois ele finalmente responde. Responde com um simples ‘sim’. Sim esse que eu já sabia. Sim esse que eu desejava tanto ter lido um ‘não’. E apesar de aquele sim ter tido efeitos devastadores no meu coração, eu já estava à espera disso. Depois de ler a sua mensagem, engoli em seco e fiquei sem saber o que fazer. Será que lhe digo mais alguma coisa? Ma o quê? Depois desse sim, eu não sabia mais o que dizer. Só sei que agora sim, tenho a certeza a cem por cento que tudo mudou. Já nada vai ser como dantes. Eu para ele, deixei de existir. E quando achei que não haveria mais nada para dizer um ao outro, o som de uma nova mensagem assusta-me, acordando-me do meu transe. Leio de imediato a sua nova mensagem que diz o seguinte: «Estás chateado?»

Se estou chateado? É claro que estou! Ele quebrou a nossa promessa. Mas é mais claro ainda que eu não fui capaz de lhe responder assim. Simplesmente escrevi: «Chateado?! Porque é que eu havia de estar chateado?»

«Porque eu te conheço», disse ele acrescentando de seguida «talvez melhor do que ninguém e sei que esse ‘sim’ magoou-te, verdade?»

«Magoado estou eu por causa da perna» escrevi eu «Não tenho mais nenhuma razão para estar magoado.»

«Mentes», respondeu ele de imediato. E sim! Ele tinha razão. Eu estava chateado. Magoado, mas não queria de forma alguma dar-lhe a entender isso. Ainda pensei responder contestando a sua afirmação, mas não fui capaz. Estava tão magoado com tudo isso que qualquer coisa que eu escrevesse, iria simplesmente soar a mentira. Iria simplesmente fazer com que ele visse, através de uma mensagem escrita, que os meus olhos estavam cheios de lágrimas e isso eu não queria. Apesar de eu e ele sabermos que eu não era forte, naquele momento era essa a imagem que eu queria passar. Fingir que aquele ‘sim’ não me tinha afetado nem um pouco. Mas afetou-me. Por causa daquelas três letrinhas, eu vi diante dos meus olhos, o meu mundo chegar ao fim. Os meus sonhos serem rasgados como uma simples folha de papel. Tudo acabou. E agora? Eu precisava arrancar essa dor que tinha no meu peito e por isso, recusando-me a trocar mais mensagens com ele, simplesmente escrevi «Já é tarde. Estou cheio de dor. Vou morrer». Mas não! O que escrevi foi apenas «Já é tarde! Estou cheio de sono. Vou dormir.» E larguei o telemóvel na minha mesinha de cabeceira.

Que estúpido que eu fui. Porque? Porque é que eu perguntei? Do que vale perguntar algo do qual nós já sabemos a resposta? Melhor seria se eu tivesse ignorado tudo o que se passava a minha volta. Ignorava e assim, tudo se mantinha igual. Na verdade, nada ficava igual, mas pelo menos assim, acho que a dor seria menor. E porque é que ele respondeu? Ele já sabia que eu sabia. Porque é que ele ainda fez com que a minha dor fosse maior? Porquê? E com tantos porquês, agora até pareço a minha irmã Sofia que tem apenas cinco anos e a toda a hora está a perguntar o porque de tudo. Eu sei que um dia, mais cedo ou mais tarde, todos nós passamos por isso mas espero muito sinceramente que ela nunca chegue a perguntar o porque, dessa dor que a gente sente no coração, quando alguém que nós é tão próximo, afasta-se assim de repente.

E depois daquelas mensagens, o calor já não incomodou mais. Esqueci-me por completo que tinha um pé aflito de comichões. Esqueci de por o meu coração a bater, a bombar sangue pelas veias. Esqueci-me de dar ar aos meus pulmões, esqueci-me de respirar. Esqueci-me de viver e só me lembrei de morrer.

Só acordei para a vida na manha do dia seguinte. Bem! Para falar a verdade, quando acordei já não era manha. Já passavam das 13 horas quando de repente, comecei a ouvir alguém a mexer no meu computador. Achei logo que fosse a Sofia, que agora andava viciada num jogo de princesas que tinha encontrado na internet mas não, quem estava no computador não era ela. Nem mesmo era a minha mãe, que agora tinha a mania de vir procurar receitas pela internet. Eu ainda esfreguei os olhos, achando que estava a sonhar, que estava a ainda a dormir mas não. Não era um sonho.

— O que estás a fazer?

Assim que me ouviu, ele girou a cadeira para ficar de frente para mim e disse:

— Desculpa! Não te quis acordar.

Apesar de ter a certeza que não era um sonho, todo aquele momento estava a ser estranho demais. Estava a ser surreal. Eu ali, talvez ainda com ramelas nos olhos, uns olhos que provavelmente estavam cheios de olheiras, vermelhos por terem jorrado litros e litros de água durante a madrugada e ele ali, a minha frente, a mexer nas minhas coisas e pior, a ver uma pasta pessoal que eu tinha no meu computador. Uma pasta repleta de fotos. Uma pasta de fotos que me fez congelar a olhar para elas. O Carlos de imediato percebeu todo o meu constrangimento. Olhou novamente para o computador e foi percorrendo algumas das centenas de fotos que estavam nessa pasta pessoal. E depois parou numa foto. Ampliou a imagem e ficou a olhar para ela. Era uma selfie que eu tinha tirado há uns meses atrás. Uma selfie em que eu estava a fazer algo que eu não devia, algo que naquele momento me envergonhava. Algo que fez com que eu quisesse fugir dali a correr. Que fizesse com que um buraco abrisse na minha cama e me leva-se para as profundezas do inferno mas não. Nada disso aconteceu. Tive que enfrentar aquele momento. Um momento, onde na enorme tela do computador, estava uma fotografia onde eu dava um beijo na boca do Carlos. Um beijo roubado numa noite em que eu tinha ficado a dormir na casa dele e onde ele dormia que nem um príncipe. Um beijo que eu tinha feito questão de marcar para a vida toda, ao tirar uma selfie desse momento. Meu Deus! É agora que eu vou morrer!

Sem nem olhar para mim, apenas bastante concentrado a digerir aquele momento fotográfico, o Carlos passado um tempo termina com aquele momento de silêncio dizendo:

— Tens aqui muitas fotos que eu não tenho. Tens que me passar algumas delas quando puderes.

«Sim! Eu passo! Mas agora por favor, não te zangues comigo.» Tentei dizer-lhe, mas da minha boca nada saiu. Não tinha palavras para dizer-lhe seja lá o que fosse. Estava envergonhado com aquele momento, mas a situação piorou quando de repente, ele minimizou a foto e maximizou uma página do Word. Uma página que não era uma página qualquer. Era uma página com uma carta. Uma carta que em tempos escrevi, que nunca tive coragem de imprimir e nem mesmo enviar ao seu remetente. Uma carta que ele jamais poderia ter encontrado, jamais poderia ter lido mas… Ele encontrou! Ele leu! E com o scroll do rato, foi descendo, descendo por todas as palavras e linhas que eu tinha escrito, até parar num paragrafo. Um paragrafo que estava diferente. Continuava com as mesmas palavras que eu tinha escrito, mas estava diferente. Três palavras estavam sublinhadas, três palavras estavam a vermelho e a negrito. Três palavrinhas apenas que estavam em letra bem grande, ao ponto de eu, mesmo da minha cama, conseguir ler o que ali estava escrito: EU-SOU-GAY. E depois, deixando o computador com essa grande declaração estampada no monitor, gira a cadeira ficando novamente de frente para mim, pega num saco que tinha no chão e que eu ainda nem tinha reparado nele e entrega-me.

— Toma! É para ti! — disse ele esticando o saco para mim. E eu ainda estava sem saber o que dizer. Sem saber como reagir. Continuava a desejar que um buraco se abrisse no chão e me levasse para bem longe dali, de toda aquela vergonha. E ao perceber que eu nem conseguia esticar o braço para receber o seu saco, ele disse de seguida: — Vá-la! Agarra de uma vez por todas no saco. Prometo que ele não te vai morder.

E disse-o de uma forma carinhosa. A sorrir para mim. Com aquele mesmo olhar de amigo que sempre foi. Mas nem por isso eu tive coragem de pegar no saco. E ele, cansado dessa minha falta de reação, com o saco na mão, levanta-se da cadeira giratória e vai sentar-se na minha cama, mesmo ao meu lado. Agarra na minha mão, e obriga-me a agarrar no saco dizendo:

— Queres fazer o favor de aceitar esse meu presente?

«Presente?!» Porque é que ele havia de me estar a dar um presente? Não fui capaz de dizer nada, mas não tive como não agarrar no saco. E de dentro do saco, eu com todo o cuidado, com todo o medo, tiro de lá um pequeno peluche. Mas não era um peluche qualquer. Um peluche que com certeza ele tinha comprado na sua recente visita ao Jardim Zoológico. Um peluche que trazia muitas recordações. E boas. Era uma linda girafa. Uma girafa que era e sempre foi o meu animal favorito.

— E então? Gostaste? — disse ele, mas nem sequer esperou pela minha resposta. De imediato, continuou a falar. — É igualzinha à Girafa Sofia, não é?

Sim! Era igual. Igualzinha à Girafa Sofia, a Girafa que há uns bons anos atrás, a mãe dele tinha-me oferecido num dos meus aniversários e que eu não largava por um segundo. Mas isso já foi há tanto tempo. Talvez tínhamos ambos cinco anos e eu não conseguia passar um dia sem aquela girafa. Uma girafa que ao contrário do que acontecia com o Carlos, a ela eu podia contar tudo. Podia contar-lhe todos os meus segredos. Uma girafa que desde os meus cinco anos, sempre soube aquilo que eu era e sempre guardou segredo em relação a isso. O segredo foi tão bem guardado que nem mesmo na hora da sua morte, quando o cão Thomas, do Carlos, arrancou-lhe o pescoço e com os seus dentes a desfez por completo, nem mesmo nessa hora de dor ela revelou qualquer segredo que fosse. Uma Girafa que me fez chorar uma noite inteira por causa da sua morte, mas que com isso, fez com que eu tivesse dormido lado a lado com o Carlos. Numa noite triste em que ele, apesar de tão novinho, não mediu esforços para me tentar animar. Para enxaguar os meus olhos cheios de lágrimas e para encher o meu coração de amor. Uma Girafa, que um dia, quando a minha mãe disse que estava grávida, foi o Carlos que disse para eu pedir à minha mãe, que desse o nome de Sofia à minha nova irmãzinha, em homenagem a uma boneca que já havia partido há imenso tempo. E agora. Anos depois, pelas mãos do Carlos, a girafa volta à minha vida.

— Assim que a vi na loja do zoo eu não resisti — disse ele, — tive que comprar. Tinha que te dar esse presente e eu espero que gostes.

E é claro que eu gostava! Ao longo desses nossos 16 anos de amizade, o Carlos já me tinha oferecido imensas prendas, mas aquela era sem dúvida a mais especial. Tão especial que eu, apesar de achar que estava seco por dentro e já não tinha mais lágrimas para chorar, de repente as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto a baixo. E o Carlos, ao ver essa minha explosão de emoção, não hesitou. Com a sua mão, tentou mais uma vez enxugar os meus olhos mas eu não conseguia aguentar ter ele ali, lado a lado comigo e a tocar no meu rosto. Com receio de não conseguir resistir, afastei-me da sua mão. A chorar, agarrei-me à girafa com força. Abracei-lha como se ela fosse a única coisa que eu tivesse nesse mundo mas eu estava enganado. Eu tinha muito mais. E ao afastar-me da mão que iria enxugar o meu rosto, o Carlos sem hesitar teve uma atitude que eu não esperava. Abraçou-me! Abraçou-me com força e todo o meu corpo tremeu. Mas tremeu por pouco tempo, pois logo deixei de tremer. O Carlos tinha esse efeito em mim. Quando estava com ele, nunca havia razões para ter medo. Nem nunca sequer havia razões para tremer. Podíamos estar ambos no polo norte, que eu tenho a certeza que para não me ver tremer, ele era bem capaz de me dar o seu casaco, o seu gorro, o seu cachecol, apenas para eu não sentir frio. E esse seu abraço deu-me segurança. Deu-me a certeza que afinal estava tudo bem. Sim! Para quê tremer se depois de ele ter visto as centenas de fotos que eu tinha dele no meu computador, se depois de ele ler a carta que eu tinha escrito e que destinava-se a ele, o Carlos mesmo assim estava ali, ao meu lado e a abraçar-me.

— Desculpa! — disse ele abraçando-me cada vez com mais força. — Desculpa se quebrei a nossa promessa.

Uma promessa que ambos tínhamos feito, quando pela primeira vez tínhamos beijado uma menina na escola. Tinha sido através daqueles jogos parvos que as crianças têm por norma fazer. A ele, tinha caiado beijar a Marta e eu a Mafalda. E quando chegamos a casa, arrepiados por causa dos beijos, prometemos um ao outro que nunca mais iriamos passar por aquela experiência horrível. Que jamais iriamos gostar daqueles seres estranhos que eram as raparigas. Que jamais iriamos largar um, para ficar com uma delas. Promessa essa que eu sei que foi quebrada mais cedo do que eu esperava. Com o tempo, quando começamos a crescer e os nossos corpos a mudar, o Carlos passou a gostar dos beijos desses seres estranhos. Teve algumas admiradoras, posso até dizer que teve algumas namoradas, mas era coisa que durava pouco. Uma semana no máximo. Tinha fama de conquistador e para mim, desde que ele não oficializasse realmente um romance, nenhuma das suas conquistas incomodava-me. Pelo menos até agora. Agora a promessa tinha sido quebrada mas de uma forma mesmo muito drástica.

Ao perceber que me apertava com força, o Carlos deixou de abraçar-me para que eu pudesse respirar e depois, não hesitou em continuar a falar.

— Quando há uma semana atrás tu me perguntaste se eu estava a namorar eu não respondi. Não respondi porque tive muito medo que sofresses por causa disso. E eu não quero que sofras. Em nenhum momento mas… — e um sorriso ainda mais lindo invade o seu rosto — Ela é diferente. Eu gosto dela. Ela me entende, ela gosta das mesmas coisas que eu, das mesmas coisas que nós e… tenho a certeza que tu também vais gostar dela.

Depois de abrir o seu coração e dizer que estava perdidamente apaixonado pela Patrícia, ele olhou para o monitor. O mesmo monitor que em letras grandes e vermelhas, não parava de dizer EU-SOU-GAY.

— Eu sei! — disse ele olhando para o monitor e depois para mim. — Na verdade eu sempre soube. Desde pequeno que eu soube que sim, tu eras diferente. Que sim! Tu vias-me de maneira diferente, mas não interessa. Tu para mim és o Rui. O mesmo Rui de sempre e…

E quando parou de falar, não sei o que aconteceu. Olhou para mim. Olhou-me nos olhos e sem que eu estivesse à espera, teve mais uma das suas inusitadas atitudes. Beijou-me! Mas não! Não foi um beijo na face como já muitas vezes tinha acontecido. Foi um beijo nos lábios. Sim! Ele roubou-me um beijo. Um beijo que durou poucos segundos, mas que foi um beijo. Um beijo estranho. Que logo depois deixou de haver beijo e foi ele próprio que disse:

— Estranho! Eu gosto muito de ti mas tu para mim és como um irmão que eu nunca tive. És o meu melhor amigo, és parte de mim e… esse beijo não faz sentido! Desculpa, mas não faz.

Sim! Aquele beijo não fez mesmo sentido, mas eu gostei. Foi a primeira vez que recebi um beijo. Não daqueles beijos em jogos de crianças. Foi mesmo um beijo, onde os seus lábios carnudos tocaram no meu. Onde ainda consegui sentir o sabor da sua boca, um sabor suave a menta e que eu tinha gostado mas… tinha sido mesmo estranho.

— Eu vou estar sempre ao teu lado — continuou ele — mas como amigo. Nunca mais do que amigo, entendes.

E afirmativamente eu abanei a cabeça.

— Eu não quero que sofras. E eu sei! Eu tenho a certeza que um dia tu vais encontrar um rapaz que irá encher o teu coração cheio de amor mas… desculpa. Esse rapaz não sou eu.

— Eu sei! — disse eu finalmente abrindo a boca para falar. — Na verdade sempre soube e…

— Ficas bem em relação a isso? — interrompe-me ele.

Mas aquela era uma pergunta que eu talvez não sabia responder. E em vez de dar resposta, preferi ser eu a fazer uma última pergunta.

— Posso fazer-te uma pergunta?

— Claro que sim! — disse ele. — Eu prometo responder.

Foi então que eu enchi de coragem e disse:

— Tu agora estás apaixonado pela Patrícia. Há de haver um dia em que tu vais casar. Se não for com ela, será com outra. E depois de casar, com certeza terás filhos, irás construir uma família e… será que mesmo assim tu irás ter espaço para mim na tua vida?

— O que é que achas?

Não! Não me respondas com uma pergunta, por favor!

— Se eu me casar, tu vais com certeza ser o padrinho — disse ele. — Se eu tiver filhos, tu irás ser o tio e mais, irás ser o padrinho deles e de uma coisa eu sei. Tu sempre serás da minha família.

E uma lágrima caiu do meu olho. E para provar que aquele não era um momento de tristeza, de imediato, ele com a sua mão, limpa o meu rosto e contagiando-me com o seu enorme sorriso, acrescenta ainda:

— Eu amo-te! Nunca duvides disso. É um amor diferente, mas é amor…

E essa foi sem dúvida a resposta perfeita. A melhor de todas elas. A resposta que encheu o meu coração de vida. A resposta que fez com que eu conseguisse respirar novamente. Sim! Eu sou gay e apaixonei-me pelo meu melhor amigo mas, quem é que nunca se apaixonou pelo seu melhor amigo? O importante agora, é saber viver com isso. É seguir em frente e sim, estou confiante de que tudo vai correr bem. Sim! É a resposta à minha pergunta…

16
Nov16

A estranha moda dos cozinheiros sem roupa (continua...)

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E a saga dos cozinheiros despidos continua. Se na semana passada o Chef nu em destaque era o peruano Franco Noriega que é sem dúvida alguma apetitoso, hoje deixo-vos com mais um Chef que intitula-se de Hot e… ele é mesmo hot não é?

 

 

O seu nome é Pedro Carrasco, estudou numa das melhores escolas de cozinha no mundo, a famosa Le Corden Blue em Paris e pelo que ele promete, todas as semanas irá apresentar um vídeo no seu canal do YouTube com receitas deliciosas. Receitas tipo essa:

 

 

E então? O que acharam deste outro cozinheiro que vai para a cozinha fazer coisas deliciosas e nu? Eu não me importava nada de ter esse cozinheiro na minha cozinha. Duma coisa eu teria a certeza, passar fome eu não ia. Tenho a certeza que ele me alimentaria super bem e de todas as formas possíveis…

14
Nov16

Alguém me consegue explicar o que é isso?

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Parece que pela internet, há uma nova palhaçada que se está a tornar viral. Trata-se de um novo desafio chamado MANNEQUIN CHALLENGE e eu confesso não perceber aquilo, nem qual o seu objetivo. Mas para ser sincero, não sei se estou interessado em saber.

 

O que sei, é que pelas redes sociais já têm sido publicados vários vídeos e um desses vídeos com o desafio, foi publicado pela nossa Seleção Nacional e se tiverem curiosidade em ver, espreitem agora o vídeo.

 

 

Já agora, se ainda tiverem curiosidade em ver mais, espreitem este vídeo

14
Nov16

Julieta (de Pedro Almodóvar) | +Cinema

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Na quarta-feira passada aproveitei que o cinema estava mais barato, para ir ver um filme. Na verdade, a intenção era ver dois filmes seguidos, mas depois não sei o que me deu, no final do primeiro filme tive vontade de ir para casa e fui. Na verdade, aquilo que me deu foi um certo sentimento de tristeza. Sim! Fiquei triste e isso por causa do filme que tinha visto.

 

Se há realizador de cinema que eu adoro, venero, amo de paixão, é o grande Pedro Almodóvar. Sou fã e confesso que não há nenhum dos seus filmes que eu não goste. Adoro-os a todos! Claro que há umas certas preferências em relação a um filme ou outro, mas para mim, tudo o que ele faz é realmente uma obra de arte. E com essa minha devoção ao realizador, eu não podia de forma alguma deixar de assistir ao seu mais recente filme “JULIETA”. Filme esse que já estreou há umas boas semanas atrás, mas que felizmente, ainda consegui encontrar uma sala com ele em exibição e… a minha opinião é a mesma em relação a todos os seus filmes. Este “Julieta” é lindo e se tiverem a oportunidade de o ver, eu recomendo que o façam, pois vale a pena.

 

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Apesar de ter adorado este filme e de mais uma vez ter saído da sala com os olhos em lágrimas por causa do Almodóvar, tenho que admitir que este “Julieta” está um pouco abaixo de outros filmes que ele já realizou. A história em si está muito bem contada, o elenco está maravilhoso, mas não sei! Sinto que faltou algo. Algo que lhe desse mais força. Algo que me fizesse ficar ainda mais surpreendido, pois apesar do filme ser bom, não acho que tenha sido forte a nível do efeito surpresa. Mas eu gostei! Nota-se facilmente que esse é um filme do Almodovar, onde as mulheres – grandes mulheres – estão em destaque e sem grandes artimanhas, a história é-nos apresentada de uma forma simples e coerente. Enfim! É mais uma obra prima da sétima arte e agora, que venha o próximo. E que venha sem grandes demoras, com grande força e de preferência, com algumas das musas do realizador, tipo a Penelope Cruz e não só…

13
Nov16

A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares (de Ransom Riggs) | +Livros

O Lar da Senhora Peregrine.jpg

 

Finalmente terminei de ler o livro "A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares" do escritor Ransom Riggs. Se bem se lembram, há cerca de um mês atrás, fui ver este filme ao cinema com alguma expectativa em relação a ele e no final, saí da sala super entusiasmado. Adorei o filme! Por isso, não foi de estranhar, que pouco tempo depois resolvi comprar o livro e aí já com grandes expectativas em relação ao livro, comecei a ler na esperança de conseguir entrar nesse maravilhoso mundo mágico das crianças peculiares, mas no final do livro, confesso que fiquei um pouco desapontado.

 

Eu já sabia de antemão que o livro nada tinha a ver com o filme realizado por Tim Burton. O filme, de uma só vez, ao que parece praticamente apresenta o enredo dos restantes livros que o autor Ransom Riggs escreveu acerca do universo desses peculiares, mas o que me fez uma certa confusão, foi o facto de até algumas personagens terem sido trocadas. E não foi umas personagens quais queres, foi sim uma das personagens centrais da história e quanto a isso, fez-me depois uma certa confusão na hora da leitura. Mas tirando esses a partes, o livro todo no geral pareceu-me um tanto ao quanto monótono. O que torna o livro mais excitante, eu diria que é o facto dele, no interior, ter várias fotos bizarras dessas crianças peculiares e não só. E isso é interessante de se ver, enquanto seguimos a história. Mas o desenrolar dessa história parece-me acontecer muito lentamente e quando as coisas estão a começar a acontecer, eis que o livro termina assim do nada, obviamente convidando-nos a ler o livro seguinte.

 

Eu tenho uma certa teima quando se trata de comparar/escolher entre um livro e o filme que foi realizado com base nesse livro, mas quanto a isso, vou reservar para falar com mais detalhe num próximo post. O que me irrita neste momento, é o facto de saber que agora terei que comprar o próximo livro, “Cidade Sem Alma”, para saber o que vai acontecer ao grupo dos peculiares que agora, tencionam salvar o mundo mas… para ser sincero, tenho as minhas dúvidas se realmente irei querer comprar ou não.

12
Nov16

Interior. Leather Bar | +Filme

Interior Leather Bar.jpeg

 

Há uns tempos atrás, encontrei pelos canais TV Cine, este “INTERIOR. LEATHER BAR.”, que é nada mais, nada menos do que o resultado de uma estranha experiencia do actor/realizador James Franco, que quis porque quis, mostrar-nos o que poderia ter sido os 40 minutos cortados do filme "Cruising", realizado por William Friedkin na década de 80 e que conta com o actor Al Pacino no papel principal. Nesse “Cruising”, Al Pacino interpreta o papel de um polícia que está encarregue de resolver um caso de homicídio que envolve a comunidade homossexual. Na altura, o filme chegou a ser criticado pelos homossexuais, por supostamente tratar-se de um filme com um teor homofóbico e tendo em conta de que o filme continha algumas cenas bastante ousadas para a altura, foram cortados 40 minutos de filme, onde Al Pacino entraria num bar gay e iria passar por várias situações de sadomasoquismo. Esses 40 minutos nunca se tornaram públicos, mas James Franco na companhia do amigo Travis Mathews, um dia resolveram pegar nessa ideia e recriar esses 40 minutos.

 

Eu pessoalmente não gostei deste filme, documentário, ou seja lé o que isso tenha sido. Achei tudo muito estranho e apesar do filme contar com a presença de James Franco, que a determinada altura explica o porquê de ter criado este projecto, com afirmações que eu até concordei, a verdade é que fiquei com a sensação de que o actor, que por diversas vezes já teve a sua sexualidade questionada, quis realizar um dos seus fetiches, ver um bando de homens a terem sexo ao vivo, de carne e osso, pois tal como ele próprio afirma, filmes pornográficos todos vêm. E o que nem todos tem a possibilidade, é de estarem na rodagem de um desses filmes e foi esse fetiche que ele quis realizar.

 

 

Sem qualquer nexo, eu que sou gay e que também acho que deveria haver mais sexo gay em filmes, achei tudo isso demasiado exagerado.

11
Nov16

Eu Sou Gay | Episódio 3 | Como contar?

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Como é que eu lhes vou contar? Já há tanto tempo que ando com essa questão na minha cabeça, mas não há forma de eu conseguir uma resposta para ela. Todos os dias quando acordo, depois de uma noite muito mal dormida em que tentei sempre arranjar uma solução para o meu problema, eu digo a mim mesmo: de hoje não passa! Hoje vou contar-lhes. Hoje vou deixar a mentira de lado e vou passar a dizer só a verdade. Mas depois as horas passam e quando dou por mim já é novamente noite e eu não cheguei a contar. Não sei como contar. Não sei como começar a conversa, não sei que palavras irei dizer e principalmente, não sei como é que eles irão reagir. E acho que é esse o meu maior problema. Acho que só ainda não lhes contei tudo, porque tenho muito medo da reação deles. Sei que estamos em pleno século XXI mas infelizmente ainda se ouvem histórias de pais que expulsam os filhos de casa, apenas porque os filhos quiseram deixar a mentira de lado. E eu também quero deixar a mentira de lado. Quero finalmente deixar para trás a pesada mascara que carrego todos os dias e ser finalmente eu, mas… Como é que eu lhes vou contar? Como é que eles vão reagir? Será que se eu contar, eu continuarei a ser o mesmo filho de sempre? Continuarei a ser o mesmo irmão de sempre? Meu Deus! Tenho tantas questões, tantas dúvidas na minha cabeça, tantos medos, tantos segredos que, não sei o que fazer.

Hoje tenho 17 anos. Ou melhor! Acho que posso já dizer que sou um jovem adulto, pois daqui a três dias vou já fazer 18 anos. Já vivi algum tempo e muito desse tempo eu vivi com essas minhas dúvidas na minha cabeça. Acho que sem exagero, a primeira vez que eu percebi que era diferente, eu tinha apenas cinco anos. Meu Deus! Era tão novo e já naquela altura eu sabia. Estava confuso, pensei que seria apenas uma fase, mas não! Confuso eu continuo e as incertezas também permanecem. Mas de uma coisa eu já tenho a certeza, aquilo pelo qual eu estou a passar não é uma fase. Não é tipo aqueles tempos em que eu era doido pelos desenhos animados Pokemon e hoje eu já nem os suporto. Eu sei o que sou e não há forma de alterar isso. Sei que sou diferente. Sou igual a tantos outros mas quando eu contar, serei diferente aos olhos dos meus pais, do meu irmão e eu tenho medo. Muito medo!

Há uns dias atrás eu estive mesmo para contar. Respirei fundo várias vezes e tentei de alguma forma ganhar coragem para lhes dizer. Era noite e estávamos os quatro sentados à mesa a jantar. Naquela noite, a minha mãe tinha feito um prato que tanto eu como o meu irmão adorávamos: hambúrguer com batatas fritas e um ovo estralado. E ao contrário do meu irmão que comia e lambuzava-se todo, eu não conseguia comer. Podia até dizer que tinha fome, que estava de estômago vazio, mas eu não conseguia. Na verdade, sentia-me era cheio. Cheio de medo! E eu batalhei muito para que em vez de cheio de medo, eu sentisse-me era cheio de coragem, mas a coisa estava difícil.

Eles falavam entre si mas eu nem conseguia prestar atenção ao que diziam. Estava tão distraído nos meus pensamentos que foi difícil acordar para a vida e perceber que em dado momento, a minha mãe falava diretamente para mim. Questionava-me se eu estava bem. Tive vontade de dizer-lhe que não, não estava nada bem, mas nada disse. E ela insistiu. Perguntou várias vezes se eu estava bem e eu mais uma vez tive que lhe mentir. Disse que sim. Que estava tudo bem, mas ela não ficou convencida. Naquele momento, já todos estavam de olhos postos em mim e o meu irmão André, brincalhão como sempre, começou logo a dizer que eu andava na lua. Na lua eu não estava, mas podia estar perto disso, pois apesar de estar tão próximo da minha família, eu não tinha prestado atenção a nada do que eles tinham andado a dizer durante o jantar.

O meu irmão abusado, ao ver que eu não comia, começou logo a roubar-me as batatas do prato, mas a minha mãe tratou logo de lhe dar uma reprimida. Mas não adiantou de nada, pois ao ver que eu não reagi à atitude do meu irmão, o André voltou a meter o seu garfo no meu prato para levar mais umas quantas batatas. A minha mãe achou estranho a minha falta de atitude e sem demoras, levou a sua mão à minha cabeça para ver se eu tinha febre e mais uma vez questionou se eu estava bem. Eu tentei, juro que tentei abrir a boca para lhes contar, mas como é que eu havia de dizer?! Não sei! Naquele momento senti que podia até engolir um dicionário inteiro, que continuava na mesma sem ter palavras para lhes falar. Limitei-me apenas a dizer mais uma vez que estava tudo bem. Mas não estava! Por dentro eu sentia-me péssimo por continuar com aquela mentira.

Sem coragem para os enfrentar, naquela noite pedi ao meu pai para me ausentar da mesa mais cedo. O meu pai era uma pessoa rígida no que diz respeito à hora do jantar. Como durante o dia estavamos sempre cada um para o seu lado, devido aos vários afazeres que cada um tinha, ao jantar ele fazia sempre questão de estarmos todos sentados à mesa, de televisão desligada, telemóveis afastados e usufruirmos ao máximo da refeição em família. Aquele era o momento para estarmos todos juntos e para contarmos as novidades. E havia sempre algo novo para contar. Quem vê de longe a minha família, pode até achar que aqueles nossos jantares eram super aborrecidos, pois tínhamos que estar ali cerca de uma hora, sem nenhum contacto do exterior, mas não! Aqueles até eram momentos divertidos. Momentos em que os meus pais contavam histórias do trabalho, ou comentávamos uma noticia interessante que tínhamos ouvido durante o dia, em que o meu irmão André contava as coisas novas que tinha aprendido no curso de Design e eu… Bem! Eu na verdade não partilhava muita coisa com eles. Por norma falava sempre muito pouco mas divertia-me com tudo aquilo que eles contavam. Aquele era o melhor momento de família que nós tínhamos durante todo o dia. E os meus pais adoravam preservar esses momentos ao máximo, pois eles já sabiam que mais cedo ou mais tarde eles iam terminar. O meu irmão, agora que tinha arranjado uma namorada, mais cedo ou mais tarde iria era querer passar o tempo com ela e eu… Eu não fazia a mínima ideia de como iria ser o meu futuro a partir do momento em que eu lhes contasse a verdade. E talvez essa era também uma das principais razões pelo qual eu ainda não tinha contado nada. Tinha receio de perder esses momentos em família. Momentos em que o meu pai obrigava-nos a ficar sentados à mesa até ao final do jantar. Mas naquela noite, quando lhe pedi licença para levantar, quando todos ainda tinham o prato quase todo cheio, o meu pai olhou para mim e até deu permissão para eu me levantar. A minha mãe contestou. Disse que eu devia comer, que não podia dormir de barriga vazia, mas o meu pai continuou na sua. Deu-me autorização para sair da mesa e eu, aproveitando a boa vontade do meu pai, perguntei logo se podia ir à casa da Diana. A minha mãe voltou a contestar. Disse que era tarde, era hora do jantar e não era hora de ir bater à porta dos vizinhos, mas eu insisti. Disse-lhes que tinha que ir entregar um livro que ela estava a precisar e sem que eu estivesse à espera, o meu pai deu-me também autorização para ir até à casa dela. Naquele momento senti que algo estranho se passava com o meu pai. Sem saber porque ele estava a abdicar do seu momento precioso em família, para deixar-me eu ir ter com a minha melhor amiga. Mas nem quis pensar muito nesse assunto. O meu principal objetivo naquele momento era afastar-me. Afastar-me antes que eles conseguissem ler escrito na minha testa, aquilo que eu tanto queria contar-lhes, mas não tinha coragem.

Ao contrário da minha família que não prescindia dos jantares todos juntos, a família da Diana comportava-se de maneira diferente. Ela era filha de pais separados e enquanto a mãe jantava sozinha na cozinha a ver televisão, ela e o irmão jantavam cada um nos seus quartos. E sempre que ela era convidada a ir jantar na minha casa, achava tudo muito estranho, pois não estava habituada a sentar-se na mesa para jantar. Mas no que toca à Diana, tudo era estranho. Eu e ela já nos conhecíamos há muito tempo. Desde o tempo em que os seus pais se separaram e a mãe dela alugou uma casa no meu prédio, mesmo por cima da minha casa. Na altura tínhamos ambos 8 anos e de imediato ficamos amigos. E apesar de sermos muito diferentes um do outro, eu e ela conseguimos preservar uma amizade de longa data. Somos os melhores amigos, mas… ela é estranha! Ela é mesmo estranha! Não tem nada haver comigo e por isso, muitas sãos as pessoas que acham estranho a nossa amizade. Enquanto que eu sou o todo certinho, o todo bem comportado, o ingénuo, o inocente, a Diana é talvez a personificação do Diabo. Desde muito cedo que veste-se só de preto, usa maquilhagem escura, fuma e não é só uns simples cigarros, já teve vários namorados e virgem é coisa que ela não é. Ou seja, ela é completamente o inverso de mim. Mas talvez por isso é que sempre nos demos tão bem. Eu sei dos seus segredos e ela sabe dos meus. Ou melhor! Há certos segredos que ela não sabe. Há certas coisas que nem para ela eu tenho coragem de contar. Curiosamente são as mesmas coisas que eu não consigo contar aos meus pais. E porquê? Nem eu sei porquê! Simplesmente não consigo! E o curioso nisso tudo, é que há uns tempos atrás ela contou-me que chegou a ter um caso com uma rapariga lá da escola. E a coisa só não foi mesmo para a frente porque ela percebeu que gostava mesmo muito de rapazes. Mas segundo ela, nunca chegou a arrepender-se dessa experiência lésbica. Eu confesso que fiquei pasmado quando ela me contou essa história. Confesso também que naquele momento eu quis contar-lhe a minha verdade, mas eu sou fraco. Eu não tenho a força que ela tem.

Naquela noite, o jantar dela eram bolachas. Lembro-me que durante o dia ela tinha passado a tarde toda a olhar-se ao espelho e a dizer que estava gorda, mas agora, como jantar, andava a devorar um pacote inteiro de bolachas recheadas com chocolate. Estava deitada na sua cama, a ouvir uma daquelas músicas de havy metal que ela tanto adorava e eu detestava e trocava algumas mensagens pela whatsapp com um novo rapaz que ela tinha conhecido. Chegou a mostrar-me algumas fotos do rapaz e perguntou-me qual era a minha opinião em relação a ele mas eu, deitado ao seu lado na cama, optei por não transmitir nenhuma opinião. Eu estava ali ao lado dela, mas ao mesmo tempo estava tão distante com os meus pensamentos, com as minhas questões que confesso, naquele momento só me apetecia desaparecer do mapa.

Enquanto trocava mensagens, ela, ao sentir-me tão sossegado ao seu lado, perguntou-me se eu estava bem. Eu lhe disse que sim mas ela sem demoras e desviando um pouco o olhar do seu telemóvel para olhar para mim, apenas disse: «Tu dizes sempre que estás bem!» E manteve o seu olhar em mim. Fiquei com a sensação de que ela queria que eu dissesse algo depois daquela sua afirmação, mas eu nada disse. Depois o seu telemóvel deu sinal de uma nova mensagem e ela em vez de ir a correr ver o que a sua nova conquista tinha escrito, permaneceu sossegada a olhar para mim. E isso incomodou-me! Ela tinha a mania de olhar fixamente para mim e tentar perceber o que se passava comigo. Havia quem dissesse que ela era bruxa, pois muitas vezes ela acertava naquilo que a gente pensava. E de forma a não correr esse risco, de ela descobrir o meu segredo através dos meus olhos, eu desviei o meu olhar, agarrei no seu telemóvel e eu próprio li-lhe a mensagem nova que ela tinha acabado de receber. Uma mensagem em que o rapaz dizia que não via a hora de estar com ela. De beijar aqueles seus lábios, tocar-lhe na pele e quando eu ia para ler o resto da mensagem, ela tira-me o telemóvel da mão e mais uma vez pergunta-me: «Tu estás bem?!»

Acreditem! Quando ela me perguntou pela segunda vez se eu estava bem, eu estive mesmo para contar-lhe tudo. Naquele momento senti o meu coração encher-se de coragem e estava para contar. Tudo aquilo que há muito lhe quis contar, mas que nunca tinha tido coragem. Disse cá para mim: «Eu vou contar e seja o que Deus quiser». Mas quando estava para abrir a boca, eis que o impensável aconteceu. Com apenas umas boxers coladas ao seu corpo, o Tiago, irmão dela, entra pelo quarto à procura do seu carregador de telemóvel. Com aquela entrada abrupta, a Diana começou logo a discutir com ele por ele ter entrado sem pedir licença. Mas o Tiago discutiu também. Gritou com ela e pediu-lhe para nunca mais usar o seu carregador. Por breves instantes, os dois fizeram aquilo que melhor sabiam fazer: discutir. Apesar de irmãos, apesar de serem gémeos, os dois tinham um ódio comum entre eles. Eram super diferentes um do outro e nunca estavam de acordo com nada. Todos os dias eram discussões naquela casa e eu já nem me dava ao trabalho de perceber o porquê das discussões. E naquele momento, eu não quis saber da discussão para nada. Só tive olhos para o Tiago. Sim! Todas as minhas atenções concentraram-se naquele belo jovem que estava ali, perante os meus olhos apenas de boxers. Engoli várias vezes em seco e senti uns pingos de suor a escorrerem pela minha testa, pois aquela imagem era maravilhosa. E eu fiz questão de não piscar os olhos em nenhum momento, pois eu tinha que contemplar toda aquela beleza que estava diante dos meus olhos. Uns olhos que já o tinham visto várias vezes sem t-shirt mas nunca assim, com uns boxers apertado às suas pernas e onde dava para uma pessoa imaginar tudo e mais alguma coisa.

Quando acordei daquele transe inusitado e maravilhoso, já a Diana tinha atirado à cara do Tiago o carregador do telemóvel e empurrado ele porta fora batendo logo de seguida bem forte com a porta. Ainda chegou a soltar algumas asneiras e depois, quando olhou para mim, recuperou a sua calma. Desligou o seu telemóvel que não parava de dar sinal de nova mensagem, deligou a música irritante e sentou-se ao meu lado dizendo:

— Porque não tentas?

Confuso eu não percebi o que ela quis dizer com o ‘tentar’. Cheguei até a questionar-lhe o que ela queria dizer com aquilo, mas de imediato ela continuou a falar e a se explicar.

 — Sim! Porque não tentas? Tu sabes que eu e o Tiago a gente não se fala muito, mas eu tenho quase a certeza absoluta que ele é gay.

Ao ouvir essa sua afirmação eu fiquei pasmado a olhar para ela. Nem queria acreditar no que ela estava a dizer. No que ela estava a insinuar, mas ela continuou.

— Ou melhor! Talvez ele seja mais é Bi mas isso não interessa. Tenho quase a certeza que ele também gosta de homens. Por isso deixa-te de tretas e tenta. Vai falar com ele…

«Falar-lhe o quê»? Tentei eu dizer-lhe, mas depois do que tinha acabado de ouvir, eu não consegui dizer-lhe nada. Estava chocado com o modo como ela estava a ter aquela conversa comigo. Estava envergonhado! Estava com vontade de fugir dali a correr para não ter que ouvir mais nada. E de facto foi isso mesmo que tentei fazer. Para fugir à verdade, eu tentei levantar-me da cama e fugir dali mas ela não deixou. Agarrou-se ao meu braço com força e disse-me:

— Eu sei que a gente nunca falou sobre esse assunto. Mas talvez esteja na hora de falares, não é verdade Artur?

E eu continuei sem saber o que dizer. Por momentos ainda tentei fazer força para fugir dos seus braços, mas em tudo, ela era sempre mais forte do que eu. Obrigou-me a estar ali sentado e colocando-se de joelhos à minha frente continuou a falar.

— Sei também que estás apaixonado pelo Tiago e que sofres por isso. E é por isso que eu te estou a dizer. Vai tentar. Vai falar com ele. Talvez serás surpreendido com a atitude dele.

— Eu não sei do que estás a falar. — disse eu finalmente, já com os olhos em lágrimas.

— Vamos parar de fingir de uma vez por todas ok? — continuou ela. — Eu sei! Já há muito tempo que eu sei. Só estava à espera que tu falasses primeiro, mas como já vi que não tens tido coragem eu… Desculpa estar a meter-me nesse teu assunto pessoal, mas eu não aguento mais ver-te assim. Eu sinto que estás a morrer por dentro por causa desse teu segredo, mas isso não tem que ser um segredo penoso. Entendes?!

Naquele momento, tudo o que era lágrimas que eu evitava chorar à frente dela e dos meus pais, escorreram todas pelos meus olhos. Formou-se um rio de lágrimas e a vontade que tive foi de abraçar-lhe. De agradecer-lhe por ter tirado um peso enorme de cima das minhas costas. Mas eu não fui capaz de dar-lhe o abraço. Nem sequer fui capaz de abrir a boca para dizer seja lá o que fosse. A vergonha era tanta, por pela primeira vez estar ali sem a mascara que eu carregava todos os dias, que por momentos senti que estava completamente despido. O meu corpo nu estava ali à mostra, assim como também estava as minhas fraquezas, os meus defeitos, os meus medos, as minhas verdades, tudo estava ali exposto. E por muito que eu sentisse que ela me aceitava e sempre me aceitou da forma como eu era, eu naquele momento não conseguia estar ali ao seu lado. Sem que ela estivesse à espera, levantei-me e saí do seu quarto às pressas. Só queria sair daquela casa e esconder-me bem longe, mas enquanto percorria o corredor da casa dela que dava acesso à porta de saída, cruzei-me com o Tiago e fui mesmo contra ele. Contra aquele seu corpo delicado e despido. Ele nada disse. Depois do encontrão apenas ficou a olhar para mim e eu para ele. Também não tive coragem de dizer-lhe nada e antes que a Diana me alcançasse, eu desviei-me dele e fui-me embora. Saí da casa onde estava a única pessoa que realmente me conhecia de verdade.

Até aquele dia, eu sempre questionei a mim mesmo como é que havia de contar. Mas pelos vistos não foi preciso contar nada. A minha verdade estava estampada no meu rosto e a Diana, ela conseguiu ver isso. E os meus pais?! Será que eles também já viram? Será que eles também já sabem? Será que já toda a gente sabe que eu sou gay? Não sei! O que sei é que ainda não tenho coragem para enfrentá-los com essa verdade. Ainda não!

10
Nov16

650€?!

Até que ponto temos o direito de pagar pela vida de alguém?? Hoje surgiu-me este grande dilema e gostava de partilha-lo com vocês. Talvez assim eu chego a uma conclusão e tome alguma decisão.

 

Há uns dias atrás estive por aqui a falar de animais de estimação e na minha enorme vontade de ter um bicho – fofinho e carinhoso – cá em casa. Na altura até falei porque estava na incerteza se devia ou não comprar umas tartarugas, já que cachorrinhos aqui em casa, a minha mãe não quer vê-los nem pintados. Até ao momento eu ainda não comprei nenhuma tartaruga, e nenhum bichinho vai parar cá a casa. Se bem que, a vontade de ter um animal continua bem viva dentro de mim mas… acho que ainda não chegou a altura certa. No entanto, hoje, ao passar pela mesma loja onde antes tinha visto as tartarugas, vi algo pelo qual eu sou verdadeiramente apaixonado. Vi um cão! Mas não um cão qualquer! Foi simplesmente o cão dos meus sonhos.

 

Eu adoro tudo o que é cães. Seja grande ou pequeno, seja feio ou bonito, seja de raça ou rafeiro, eu adoro! Mas claro, tenho algumas preferências! E para ter em casa, num apartamento, é óbvio que eu prefiro os cachorrinhos mais pequenos. E por causa dessa minha preferência, há já muito tempo que tenho uma grande paixão pelos Pitbulls Franceses. Adorava ter pelo menos uns três cá em casa e hoje, até vi um que era lindo, super querido, perfeito para vir morar comigo mas… 650€?! Só podem estar a gozar não?! Sim! O cachorrinho que vi na loja custava mais do que aquilo que eu ganho num mês. E ele até estava barato, pois eu já vi lojas que cobram 1000€ por essa raça. Que abuso!! E isso leva-me a minha questão inicial. Até que ponto temos o direito de pagar pela vida de alguém?? Neste caso, pela vida de um cachorrinho, que tem a cara mais fofa do mundo?

 

Confesso que quando vi o cachorrinho, disse logo cá para mim: «Boa! O subsidio de Natal está a chegar e já sei onde vou gastá-lo». Mas acreditem, por muito fofo que ele seja, se eu aparecesse com um cão valioso desses cá em casa, a minha mãe simplesmente matava-me! Deixava automaticamente de ter comida, cama, roupa lavada, televisão, computador, enfim… Iria ser uma guerra cá em casa mas… ele é tão fofo! E tem uns olhos tão lindos! Estava a pedir para que o levasse para casa e… aí!! Não sei o que faça!! Alguém me ajuda?!

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