Nunca (e é mesmo nunca!) vou voltar a um Call Center
No outro dia li essa notícia deprimente e de imediato lembrei-me do ódio que tenho pelos call centers. Pode ser exagerado e até muito estranho aquilo que vou dizer, mas eu prefiro morrer à fome do que vender a minha alma ao diabo. Porque para mim, ir trabalhar num cal center é realmente isso: vender a alma ao diabo. E olha que por alguns anos, eu já trabalhei em alguns call centers através de empresas de trabalho temporário, mas há cerca de cinco anos, prometi a mim mesmo que nunca mais voltaria para um trabalho de escravo como esse. Independentemente do que me viesse a acontecer a nível profissional e financeiramente, prometi que não voltava e assim será.
Já tive várias discussões com algumas pessoas, por causa da minha maneira de pensar. Segundo o que essas pessoas diziam, o trabalho de call center era um trabalho como qualquer outro mas… Mentira! Desculpa dizer isso mas essa é uma grande mentira! O trabalho de call center é um trabalho que serve apenas para explorar ao máximo, aqueles que infelizmente andam no desespero, que não conseguem arranjar um trabalho à sua altura, pois todos batem-lhes com a porta na cara alegando que não têm experiência para o cargo a que se candidatam e com medo de ficarem atolados em dívidas, em problemas, em chatices, as vezes por parte dos familiares que os pressionam para arranjar um trabalho, essas pessoas acabam por sujeitarem-se a um trabalho de escravo. Um trabalho mal remunerado, com contratos mensais, semanais, ou agora até diários. Sem garantias de permanência, com objetivos absurdos. Com pressões exageradas e muitas das vezes, com formações (da treta) de um mês, que no final até nem pagam essa formação. Meu Deus! Estamos no século XXI não estamos?
Como já aqui disse eu já trabalhei em vários call centres. Mas por onde eu andei, era apenas trabalho de prestar informações. Sempre me recusei a trabalhar num call center em que o principal objetivo era a venda pura e dura. Ou melhor, onde o principal objetivo era enganar a torto e a direito, os mais frágeis, que facilmente deixam-se levar por um jogo de palavras bonitas, ditas pelo operador. Mas até mesmo nas linhas onde trabalhei, que era somente para prestar informações, muitas das vezes sentia que estava na mesma a enganar o cliente, pois somos obrigados a isso constantemente e… não há quem aguente! Eu pelo menos não aguento! Se há coisa que eu detesto é que me enganem e por isso, porque tenho que ser eu a enganar os outros? Depois de algum tempo a passar de call center em call center, cheguei à conclusão de que não dava mais. Era impossível ficar oito horas por dia a ouvir reclamações e por isso, um dia, farto de tanta exploração, disse para mim mesmo e para os meus chefes na altura, que aquele trabalho não era decididamente para mim. Posso não ter o 12º ano, mas de uma coisa eu sei, tenho competências para trabalhos bem melhores do que esses call centres e por isso, nunca mais volto a eles. E eu sei que nunca se deve dizer nunca mas acreditem, no meu caso, posso até estar na rua, a dormir debaixo da ponte, mas não volto. Não volto mesmo!
Antes de estar no trabalho onde estou atualmente, fiquei desempregado por opção durante três anos. E sim! Foi mesmo por opção! Eu até estava num bom trabalho, com bons horários, até nem recebia mal, era efetivo, mas um dia cheguei à conclusão de que estar atrás de um balcão também não era para mim. Saí desse trabalho e durante três anos fiquei desempregado, e dediquei-me inteiramente aos estudos. Consegui tirar um curso que há muito queria tirar e ao longo desses três anos não pensei em trabalho. Quando o curso terminou e infelizmente não consegui arranjar nem estágio, não tive outra opção senão começar à procura de outras funções. Apesar de ter sido o melhor da minha turma, de ter tido a nota mais alta, por onde eu passava, diziam-me sempre que eu não tinha experiência para a função. O que para mim era ridículo. Experiência eu até tinha pois conseguia a 100% fazer aquilo que eles pretendiam, o que eu ainda não tinha, era tido a oportunidade de trabalhar nessa minha área e colocar essa experiência no meu currículo. Mas enfim! Quando vi que já não dava mais para ficar desempregado, comecei a enviar currículos e infelizmente, aqueles que respondiam aos meus emails, eram as empresas de trabalho temporário, que a toda a hora andam à procura de mais ‘escravos’ para serem atirados aos leões nessas empresas de call center. Mas acreditem ou não, nessa altura recusei todas as entrevistas de trabalho para essa função e foram muitas. Mas recusei, pois mesmo no desespero, quis manter a minha promessa e ainda bem que recusei. Tempos depois fui chamado para o trabalho onde estou atualmente e apesar de não estar a fazer aquilo que realmente queria fazer, algo que tivesse ligado ao curso que tirei, a verdade é que até sinto-me bem no local onde estou. Já lá estou há mais de um ano, já sou efetivo, não posso dizer que recebo muito mas também não recebo mal, mas dá para viver. E dá para manter essa promessa de pé. Voltar ao sitio que me fazia chorar, ter pesadelos, calafrios, sentimentos de revolta, fúria, raiva, enfim… Call centres, nunca mais!
E desde já peço desculpas a todos aqueles que possam sentir-se ofendidos com este meu desabafo, mas essa é a minha opinião em relação aos call centres. E se aparecer por aqui alguém a dizer que até gosta de trabalhar nesses sítios, desculpem a minha total sinceridade, mas nunca irei acreditar nessa afirmação. Mas podemos aqui iniciar uma discussão – saudável e amigável – em relação ao assunto. O que acham?!