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Num só blog, está tudo aqui! O MORE tem desabafos/opiniões em relação a mim e ao que se passa à minha volta. Tem sugestões de cinema, televisão e não só. E tem mais, muito mais...

04
Nov16

Eu Sou Gay | Episódio 2 | As perguntas de um filho...

EuSouGay_Episodio02.jpg

 

Um pai nunca está preparado para as perguntas inusitadas de um filho. Principalmente se esse filho tiver apenas 5 anos, for super inocente e curiosidade ser coisa que não lhes falta. Nessas idades, eles querem saber de tudo e perguntam tudo sem a mínima vergonha. Eu, há uns dias atrás fui mesmo surpreendido por uma dessas questões. Sem que eu estivesse à espera, o menino que já se julga crescido, perguntou-me algo e eu… bem, eu inicialmente fiquei sem saber o que dizer, o que responder, apenas tive que respirar fundo e tentar arranjar uma solução para lhe dar resposta que ele queria, precisava ouvir. Mas começando do inicio.

Há uns dias atrás, num domingo passado, depois de termos passado a tarde com família e amigos cá em casa, a noite surgiu e logo chegou a hora de colocar o menino Artur para dormir. Por ele, ele bem que ficaria mais umas horas acordado, pois energia era coisa que não lhe faltava. Tinha passado a tarde toda a brincar com os tios, com os primos, a correr de um lado para o outro, a saltar, mas nem por isso ele demonstrava querer dormir. Mas já era tarde e mesmo ele não querendo ir deitar-se, naquela noite, coube a mim a tarefa de o ir deitar, pois a sua mãe tinha que adiantar algumas coisas para o dia seguinte. De forma a ver se o sono surgia e ele finalmente adormece-se, contei-lhe uma história, a mesma que ele já estava farto de ouvir, mas que nem por isso se cansava. Ouvia a história como se estivesse a ouvi-la todos os dias pela primeira vez. E no final da história, ajeitei os seus lençóis, acomodei-o junto com o seu peluche favorito e dei-lhe um beijinho de boa noite. E foi aí, quando estava prestes a levantar-me, é que ele sem que eu estivesse à espera, perguntou:

— Papa! O que é ser gay?

‘Gay?!’ pensei eu. Onde será que ele ouviu essa palavra, para agora estar a perguntar-me o que era? Será que tinha sido através da televisão? Não! Ele só via desenhos animados. Só se agora, os desenhos animados de hoje em dia, já falavam da palavra ‘gay’, como se estivessem a ensinar-lhes a escreverem a palavra, como acontecia em alguns desenhos animados em que ensinavam os miúdos a escrever, a ler e a contar. Será? Não! Achei estranho aquela pergunta àquela hora e antes de dedicar-me a arranjar uma maneira de o responder, quis primeiro matar a minha curiosidade.

— Mas aonde é que tu ouviste essa palavra?

E de forma tímida e a encolher-se por completo, dando logo a entender que ele tinha feito alguma coisa de errado, o pequeno Artur lá falou.

— Foi esta tarde. Eu estava a brincar com o Pedrito e sem querer ouvi essa palavra.

Percebi de imediato que ele não queria contar de forma clara, onde tinha escutado a palavra. Queria apenas obter uma resposta da minha parte, mas eu não desisti. Tendo aquele comportamento de quem tinha acabado de cometer um erro, só faltou o Artur se esconder de baixo dos lençóis, mas com o meu olhar inquisidor, ele lá desabafou tudo cá para fora.

— Eu sei que é feio escutar à porta — disse ele com medo de ser castigado por isso — mas quando estava a brincar às escondidas com o Pedrito, eu quis esconder-me no quarto da mama e do papa. Mas quando lá cheguei, assim que estava para entrar, a mama e o tio Henrique estavam lá dentro a falar e…

— E?! — disse eu à espera que ele finalmente contasse onde tinha escutado a palavra ‘gay’.

— Foi o tio Henrique. — disse ele. — Ele estava a chorar. Não sei porquê. Disse à mama que era gay e depois os dois se abraçaram. A mama disse-lhe que não havia nenhum problema nisso, mas eu não percebi nada. O que é que é isso de ser gay?

E com essa sua pergunta eu fiquei de braços cruzados sem saber o que fazer. A pergunta por si só já era estranha, mas o que me deixou surpreso naquele momento, foi saber que o meu cunhado, que não passava também de uma criança de 15 anos, era gay. Será que o Artur tinha escutado corretamente? Não que houvesse nenhum problema em ser gay, mas nunca tinha olhado para o meu cunhado dessa forma. Eu para falar a verdade não tenho lá grande contacto com o Henrique. Dou-me mais com os outros dois irmãos da minha mulher. São da minha idade, ou até mais velhos e por isso, acabo sempre por ter mais assunto com eles do que com o irmão mais novo da Sofia. Ele tem apenas uma diferença de 10 anos de idade com o Artur e os dois sim, dão-se super bem. É notário para todos, que o Henrique é o tio preferido do Artur, pois é esse que o leva a passear, o leva ao cinema, faz-lhe todas as vontades e mais algumas, mas… ser gay?! Isso é uma novidade! Nunca tinha dado conta se bem que… Agora que o meu filho falava sobre isso, já tinha realmente dado conta de que nunca o tinha visto com uma rapariga. Eu na idade dele já tinha tido algumas namoradas. Sim! Na idade dele eu até já tinha perdido a virgindade, mas ele… Bem! Eu não tinha nada haver com isso mas a verdade, é que eu via ele mais acompanhado pelo seu amigo Beto, do que com miúdas. Será que esse Beto era o seu…

— Pai! — disse o meu filho interrompendo os meus pensamentos. —  Não vai responder à minha pergunta.

— Vou filho! Vou…

Mas como dizer a um menino de cinco anos o que é ser ‘gay’? Não estava preparado para ter essa conversa agora com ele mas de forma alguma iria conseguir fugir. Assim que a sua curiosidade estava no seu mais alto nível, não havia forma de dar a volta. Para aquela noite terminar descansada, alguém tinha mesmo que matar essa sua curiosidade. Eu só não sabia era se era a pessoa certa para isso. Mas lá tentei.

— Tens a certeza que foi mesmo isso que ouviste?

— Sim! O tio Henrique chorava e disse a mama: “Eu sou gay”!

— Gay! Pois bem! — tentei eu começar por explicar. — Às vezes, ao contrário da mama e do papa, que um dia se conheceram, apaixonaram-se e casaram, às vezes há assim meninos como eu e tu, que em vez de gostarem de meninas como a mama, gostam é de meninos, entendes?

Por momentos ficou-se tudo em silêncio e eu já estava super preocupado por achar que estava a baralhar a cabeça do meu filho, com esse assunto muito delicado. Ele lá ficou com um ar muito pensativo e de imediato, percebi que estaria para vir por aí, mais uma das suas questões. E não estava errado em relação a isso.

— Mas eu gosto do Pedrito. — disse o Artur confuso — Ele é menino como nós. Isso quer dizer que eu também sou gay?

— Não! — disse eu com mais medo ainda de o estar a baralhar. — Tu gostas do Pedrito como teu amigo, ele é teu primo, verdade? Da mesma forma que eu gosto dos teus tios, mas nem por isso somos gays. O que eu estou a querer dizer é…

Meu Deus! Como é que eu iria desembrulhar essa questão?  Como é que eu iria explicar as coisas de forma a ele compreender e não colocar questões atrás de questões. Mas depois de respirar fundo, lá voltei a ganhar força para lhe falar.

— Lembras-te de no outro dia, teres-me dito que gostas da Maria lá da tua sala?

— Não pai! — disse ele de imediato. — Já não é a Maria. Eu gosto é da Mafalda ela é mais bonita…

Mafalda?! Pensei eu! Mas quem é essa Mafalda? Tinha quase a certeza absoluta que há uns dias atrás ele estava era apaixonado pela Maria. Acho que ele ainda não me tinha falado dessa Mafalda mas… não interessa! Seja Maria ou Mafalda, a explicação ia dar ao mesmo.

— Tudo bem! — disse eu. — Tu gostas da Mafalda, não é?!

Ele acenou afirmativamente com a cabeça.

— Estás apaixonado por ela, não é?

E mais uma vez ele respondeu apenas com o acenar da cabeça.

— Pois bem! Às vezes, há meninos que em vez de se apaixonarem por meninas, assim como tu gostas da Mafalda, por achares ela bonita, há meninos que gostam é de outros meninos. Se apaixonam por outros meninos, entendes?!

— Ahhh! — disse ele apenas com uma grande exclamação. Depois pensativo ficou a olhar para o infinito. Via-se mesmo que estava a tentar colocar as suas ideias em ordem na sua cabecinha. E quando tudo já estava organizado, não hesitou em voltar a questionar. — Gostam, gostam, assim como a mama gosta do papa?

— Sim! — disse eu.

— E andam de mãos dadas?

— Sim!

— E dão beijinhos?

E afirmativamente, abanei a cabeça.

— Na boca? Como a mama e o papa dão? — disse ele um pouco surpreso.

E sem conseguir responder por palavras, abanei uma vez mais a cabeça afirmativamente. E quando eu pensava que ele estava cada vez mais confuso, ele saiu-me com essa.

— Isso então quer dizer que o Beto, é o namorado do tio Henrique.

— Ah! O Beto! — disse eu surpreso com a afirmação. — Porque é que dizes isso? Já viste alguma coisa entre eles os dois?

— Nunca os vi aos beijos, nem de mãos dadas mas… — disse ele, tentando ter todo o cuidado com as palavras. — Eles estão sempre juntos, não é verdade? Eu no outro dia até perguntei ao Beto se ele era o namorado do tio, mas ele apenas riu-se e disse que eles eram apenas grandes amigos mas… não sei não.

— Mas tu já tinhas reparado nisso? — perguntei eu ainda surpreso, por descobrir que o Artur, apesar de ser apenas um menino, já tinha descoberto mais coisas do que eu.

— Sim! — disse de imediato. —  Eu acho que eles os dois se gostam. Assim como a mama e o papa.

— Pois! Deve ser.

E quando eu achava que o assunto já estava arrumado por ali, eis que o Artur volta a fazer aquele olhar de quem ainda está confuso, de quem ainda precisa ser esclarecido de algumas coisas e claro, pressenti logo que viria aí mais algumas questões. E não é que veio mesmo.

— Não percebo! — disse ele. — Ser gay é quando um menino, gosta de maneira especial um outro menino, certo?

— Sim! E quem diz menino, pode também dizer menina. Pois há meninas que em vez de gostarem de meninos, gostam de meninas. — disse eu e de imediato arrependi-me de ter dito aquela afirmação. Será que com aquilo, ele iria ficar ainda ais confuso? Mas não! O que estava a intriga-lo naquele momento era outra coisa.

— Ok mas… — continuou ele — Porque é que ele quando contou isso à mãe, ele estava a chorar? Parecia que tinha cometido um erro, que estava a fazer algo de errado. Parecia estar com medo e… É errado ser gay pai?

— Não! — disse eu de imediato, mas ele não parou de questionar.

— É errado um menino gostar de um menino de uma forma especial?

— Claro que não mas… — disse eu mas por momentos fiz uma pausa. Naquela noite já tinha passado uma etapa. Já tinha matado a sua primeira curiosidade ao explicar-lhe o que era ser gay mas agora, estava perante outra etapa. Talvez uma etapa ainda mais complicada. Pois como é que eu iria explicar-lhe que não, não havia nenhum erro em ser-se gay mas que sim, as lágrimas do seu tio devessem talvez ao medo. Ao grande medo de ser rejeitado, pela irmã, pela família, ser rejeitado pelo sobrinho que ele tanto amava. Como explicar a uma criança de cinco anos, que sem grande dificuldade percebeu que havia ali algo especial entre o tio e o amigo Beto, que infelizmente ainda existe no mundo, pessoas que olham para os gays como criminosos, como doentes, como uma aberração da natureza? Como?

Ao perceber que algo estava errado, Artur não iria desistir em obter uma resposta da minha parte. Para ele já não havia importância saber o que queria dizer o que era gay. O importante era mesmo saber o porquê das lágrimas. Saber o porque do seu tio ter dito aquilo, de uma forma como se estivesse a sofrer por isso. E eu lá tentei explicar-lhe da melhor forma possível, sem gerar mais confusões e sem qualquer tipo de rodeio.

— Eu não sei porque é que o teu tio chorava. Apenas desconfio. Desconfio porque há muita gente que ainda vê a homossexualidade como… E antes que perguntes o que é ser homossexual, digo-te já que essa é talvez a palavra correta para se referir a um gay, a um homem que ama um homem. E na visão de muita gente, o correto é o homem amar a mulher. Por isso, muitas vezes o homossexual é incompreendido. Não é aceite na sociedade. Há pessoas que maltratam, pessoas que ofendem os homossexuais com palavras que jamais deverás aprender, ouviste Artur? Há pessoas com umas mentalidades ainda muito pequenas, que fazem com que essas pessoas não vejam, que qualquer forma de amar é válida. Entendes?

Ele continuou a olhar para mim mas nada disse. Senti, no entanto, que por momentos, havia ali uma certa tristeza no seu olhar e antes que ele imaginasse um cenário muito feio para o seu tio Henrique, eu tratei logo de fazer com que ele visse um cenário bonito, e cheio de alegria.

— Talvez quando o teu tio falou com a tua mãe, ele tivesse com medo de ser rejeitado. Por isso chorava. Tinha medo de não ser aceite por ela. Medo que a sua família o virasse às costas, mas não! Eu te assegure que isso nunca vai acontecer. Para nós. Para ti, o tio Henrique será sempre a mesma pessoa. Não interessa de quem ele gosta. Ele tem todo o direito em ser feliz à sua maneira. E quanto a nós, nós só temos a obrigação de fazer com que as outras pessoas vejam o mesmo que nós. Que ele é uma pessoa, linda, maravilhosa, que simplesmente gosta…

— De outra pessoa! — disse uma voz atrás de nós.

E ao ver a sua mãe, encostada à beira da porta, o Artur lança-lhe um daqueles sorrisos que enche de alegria uma casa inteira. Eu olho para trás e lá vejo ela, a Sofia linda como sempre, mas com algumas lágrimas nos olhos, que rapidamente tratou de as limpar. Depois a sorrir para os homens da sua vida, aproximou-se de nós. Sentou-se ao meu lado, beijou-me nos lábios e de seguida, deu um beijo na testa de Artur.

— Está na hora do menino dormir, não está? — disse ela.

— Sim! — disse ele abraçando-se ao seu boneco. Mas antes de fechar os olhos, ele não hesitou em dizer mais algumas palavrinhas. — Mãe?! Se possível, depois diz ao tio Henrique que não importa que ele seja gay. Ele será sempre o meu melhor tio, o meu melhor amigo e eu vou sempre gostar dele.

— E ele de ti! — disse ela com um grande sorriso nos lábios, nos olhos, apesar de esses ainda estarem cheios de água.

E naquele momento eu fiquei ali a pensar. Há quanto tempo é que ela estava ali junto à porta a escutar a nossa conversa. Será que estava ali desde o inicio e em nenhum momento tentou ajudar-me nas questões complicadas do nosso filho? De qualquer forma não interessa. Sem entrar em grandes detalhes, naquela noite acho que tinha conseguido matar a curiosidade do meu filho. Tinha superado a prova e tinha dito apenas aquilo que eu realmente achava. Na minha casa, o tio Henrique iria ser sempre recebido da mesma forma, de braços abertos, na companhia do Beto ou de qualquer outro namorado que viesse a ter ao longo da sua vida.

Já de olhos fechadinhos e pronto para dormir e dar como terminado aquele longo domingo, eu e a Sofia levantamo-nos da cama e dirigimo-nos para a porta. Fechamos a luz e antes de sairmos, sem que eu estivesse à espera, ela beijou-me e disse:

— Amo-te!

E assim, desta forma linda, a noite de perguntas inusitadas chegou ao fim.

 

>>> E o próximo encontro do “EU SOU GAY” fica já agendado para o dia 11 de Novembro. Entretanto, relembro que também tu podes participar neste projeto. Se gostas de escrever e gostavas que aqui fosse publicado uma história real ou ficção, da tua autoria, só tens mesmo é que escrever a história e envia-la para o endereço de email: blogeusougay@gmail.com. O único critério para que a história seja aqui publicada, é em dado momento da tua história, alguém (personagem ou narrador), diga as palavras mágicas EU-SOU-GAY. Fico à espera das tuas histórias… <<<

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