Foi ao som de um toque de telemóvel que Artur acordou na manha seguinte. Depois de uma estranha noite, ele tinha acabado por dormir na sala. Apenas com os boxers no corpo, ele estava estendido no sofá e pelo chão, estava a sua t-shirt, os calções, algumas almofadas, as chaves do carro e ainda o seu telemóvel. A janela da sala estava completamente aberta e os raios de sol já iluminavam toda aquela divisão da casa.
Quando ouviu o som do toque do telemóvel, Artur acordou um pouco assustado. Talvez mais confuso. Olhou à sua volta e por momentos estranhou ter ficado na sala a dormir. As mãos que foram directas à cabeça, deram sinais de que ele estava com uma terrível dor de cabeça. Olhou depois para o relógio junto à televisão e assustou-se quando verificou que já faltavam poucos minutos para as 11 horas. Felizmente ele naquele dia estava de folga do part-time no call center, mas mesmo que não tivesse, a sua cara de mal disposto dava a entender que ele hoje não teria paciência nenhuma para aturar clientes chatos a reclamar ao seu ouvido. Sentou-se no sofá e pegou no telemóvel do chão para ver a mensagem que tinha recebido. Rapidamente verificou que era uma mensagem da Mónica que ele leu em seguida:
«Já estás acordado?» perguntava ela na mensagem, ao que o Artur respondeu logo dizendo que sim. E sem demoras, a Mónica enviou-lhe outra mensagem que dizia o seguinte:
«Eu já estou no hospital como a minha irmã e com a minha mãe. Estamos à espera de sermos chamadas e estamos todas aqui cheias de medo.»
E ao ler a mensagem, Artur ficou sem saber o que dizer. Ele sabia que neste momento difícil, era importante ele apoiar a sua namorada mas às vezes ele não sabia como. Nunca tinha passado por uma situação dessas e estar dentro de um problema familiar que não era propriamente seu, deixava-o um pouco incomodado. Ele tentava fazer de tudo para dar força à sua namorada mas ele tinha a perfeita noção de que naquele momento, e durante os últimos meses que passaram, ele não estava a ser propriamente o melhor namorado do mundo. Mas perante aquela mensagem, ele respondeu o seguinte:
«Não te preocupes! Vai correr tudo bem!» e isso era o que ele sempre dizia, se bem que lá no fundo, ele tinha sempre receio de que as coisas não corressem realmente tão bem como ele queria. E depois de ter enviado essa mensagem, ele enviou logo outra de seguida com o texto: «Queres que eu vá aí ter com vocês?»
«Não! Não é preciso! Este momento para já terá que ser só nosso.» respondeu ela.
«Mas vai dando-me notícias.» respondeu de imediato Artur e logo recebeu a resposta dela.
«Claro! Assim que possível já te digo alguma coisa!»
Para terminar essa troca de mensagens, Artur terminou enviando-lhe uma mensagem com alguns corações e com um beijo. Por momentos ainda ficou à espera de uma resposta dela, com uma outra mensagem de amor da sua parte mas não. Ele bem que esperou mas a sua mensagem tinha mesmo sido a última. E com a falta dessa resposta que ele até gostava de receber, para ver se pelo menos o seu dia começava da melhor forma, veio à memória dele de que já não era a primeira vez que isso acontecia entre eles.
Nesses últimos meses a Mónica praticamente não parava em casa. Se não estava no trabalho, ela estava era na casa da mãe. Às vezes, Artur até achava que ela já se tinha mudado de vez novamente para a casa da mãe. E das poucas vezes que se viam, era quando ele fazia-lhe uma visita ao trabalho, ou então, quando ela passava por casa, para buscar algumas roupas para depois voltar para a casa da mãe. Quase nunca estavam juntos. Pouco ou nada falavam e quando falavam era apenas sobre coisas banais. Trocavam eram muitas mensagens por telemóvel. Isso era frequente todos os dias mas o que infelizmente também era frequente, era Artur através dessas mensagens demonstrar o carinho e o amor que tinha por ela e por outro lado, ela nunca corresponder a essas demonstrações de amor. À semelhança do que tinha acabado de acontecer, Artur tinha ficado a aguardar uma resposta dela, com pelo menos a mandar-lhe um beijo, a desejar-lhe um bom dia mas não. Isso não aconteceu e Artur já começava a ficar um pouco confuso e preocupado em relação a isso. Será que a Mónica estava a deixar de gostar dele? Esse era sempre o seu primeiro pensamento mas depois ele acordava para a vida e percebia que o mundo não girava só em torno da vida dele e da Mónica. Neste momento, haviam coisas mais sérias, mais importantes do que pensar. E uma dessas coisas era o terrível drama pelo qual a Mónica estava a passar no momento.
Apesar de nesses dias sentir muito a falta da Mónica, ele compreendia e aceitava essa sua ausência. Ele compreendia o facto dela neste momento não ter cabeça para o amor. Talvez quem passa por uma situação idêntica, talvez opte por deixar de lado um pouco o amor entre namorada e namorado e passe a dedicar-se única e exclusivamente ao amor de uma filha por uma mãe e de uma mãe por uma filha.
Há uns meses atrás, a dona Celeste, mãe da Mónica, tinha descoberto uns nódulos na sua mama e tendo em conta o longo historial de mulheres da família dela que já tinham morrido de cancro, essa descoberta foi um choque não só para a Celeste, como também para a Mónica e a sua irmã Mariana. Rapidamente ela fez alguns testes e acabou-se por descobrir o pior. O nódulo que tinha na mama era maligno e seria necessário passar por alguns tratamentos. Tratamentos esses que passaram pela retirada do seio e por quimioterapia. Nesses momentos difíceis, tanto a Mónica como a irmã, sempre estiveram do lado da mãe e se Artur tivesse uma mãe a passar pelo mesmo, talvez ele faria o mesmo que a sua namorada estava a fazer agora com a sua. Por isso ele compreendia essa ausência. Compreendia que primeiro, está a saúde e o bem estar da sua sogra e só depois é que ele devia pensar em si. E quando há um mês atrás parecia que os tratamentos estavam a correr bem, o médico veio com a suspeita de que afinal, o tratamento não estava a fazer efeito e que o tumor, andava a alargar-se para outras áreas do corpo. Foram feitos uns exames para acabar com essas suspeitas e hoje, hoje seria o grande dia. Hoje era o dia em que das mãos do médico, a Celeste iria receber os resultados desses últimos exames. Por essa mesma razão é que a Mónica estava no Hospital a acompanhar a mãe. Era preciso estarem todas juntas neste momento. E num drama assim tão grande, Artur não conseguia às vezes reagir como devia de ser. Ele queria acreditar que tudo ia correr bem mas Artur sempre tinha sido um homem muito pragmático e tendo em conta os relatórios anteriores de alguns médicos a quem elas tinham pedido outras opiniões, Artur desconfiava que nada mais havia a fazer. Só que não tinha coragem de comentar essa sua opinião com a Mónica. Por essa razão, também não conseguia como transmitir força e coragem para ela. Artur sabia que mais cedo ou mais tarde ela iria sofrer ainda mais e até agora, ele não sabia como é que iria lidar com esse assunto. Para já, o importante foi esquecer esse assunto por alguns momentos. Pelo menos para ver se ele conseguia ter uma manha mais sossegada, mais animada mas... isso acabou por não ser possível.
Quando levantou-se do sofá, a dor de cabeça ainda era permanente. Seguiu até à cozinha e quando abriu a porta do frigorifico, reparou que esse estava completamente vazio. Lembrou-se de imediato que hoje, sem falta, teria que ir ao supermercado fazer compras. Ali abandonado no frigorifico, lá acabou por encontrar uma maça ainda em condições. Pegou nela e nem hesitou em dar uma trinca. Depois, fechando a porta e continuando a comer a sua maça, foi até à janela onde lá parou para olhar a rua. Para olhar a paisagem que apesar de não ser nada de especial, o distraia enquanto acabava de comer aquela maça. Quando já não havia o que comer, colocou o resto da maça no lixo e no armário da cozinha procurou por lá uma caixa de comprimidos que ele sabia que andava por ali. A dor de cabeça mantinha e ele não estava disposto a esperar que ela desaparecesse assim do nada. Quando encontrou a caixa, colocou um comprimido na boca e com a ajuda de um copo de água, engoliu-o na esperança de que essa dor desaparece e não estragasse o seu dia de folga. Um dia em que não tinha nada planeado para fazer, que muito provavelmente iria ser para ficar em casa, estendido no sofá a ver as suas séries favoritas, mas mesmo para isso, ele queria estar bem. Queria ter um bom dia, animado e sem as dores.
As horas passavam e já começava a ficar tarde. Por isso, Artur seguiu para casa de banho onde aí, estava disposto a tomar um bom banho para ver se refrescava. Abriu a torneira do chuveiro entre o quente e o frio e quando parou à frente do espelho, lembrou-se que tinha que fazer a barba mas... não! Ele naquele momento não tinha cabeça nenhuma para aquilo. Aliás! Se havia coisa que o Artur odiava era ter que fazer a barba. Por isso, de forma a não ter que passar as lâminas pelo seu rosto sensível, ele já há muito que tinha optado por um visual com barba. Mas não daqueles visuais com uma barba farfalhuda como andava agora muito na moda. Com a ajuda de uma máquina de cortar cabelo, ele de vez em quando aparava a barba mas deixava sempre aquele ar de quem tinha uma barba de três dias por fazer. Não era uma barba longa, mas era o suficiente para dar-lhe um ar mais adulto. É que apesar dos seus 28 anos, Artur não conseguia deixar de lado aquele seu ar muito juvenil. Ele não era muito alto. Tinha por volta de um metro e sessenta oito e depois era muito magro. Mas mesmo muito magro. Daqueles que eram só pele e osso. Ele às vezes fazia de tudo para ganhar uns quilinhos mas nunca tinha essa sorte. Ele era daqueles que por vezes comia e comia sem parar mas o seu organismo não permitia que ele engordasse. A única solução para ganhar mais corpo, seria a ida ao ginásio com frequência e aderir à prática da musculação. Por diversas vezes ele pensou nessa possibilidade, a fim de conseguir ganhar alguma massa muscular mas de momento, não dava para ter gastos extras na vida dele. Todos os meses ele já tinha que pagar a casa, pagar o conteúdo da casa e as suas despesas, tinha ainda que pagar pelo carro, enfim... Neste momento, tanto ele como a Mónica andavam atolados de dívidas e apesar de agora até ganharem um pouco mais, havias gastos que nenhum deles queriam ter no momento. E o ginásio era um desses. Apesar de gostar de ver-se com mais corpo, com uns abdominais bem definidos, ele até estava satisfeito com o seu corpo. E porque é que não havia de estar? Pelo menos a Mónica nunca havia reclamado sobre a sua magreza. Nunca havia reclamado do seu visual. Gostava dele tal e qual como ele era e isso era o suficiente para ele. Mas apesar de magro, Artur sabia que era bonito. Sim! Ele era um jovem muito bonito. Tinha uns cabelos castanhos e encaracolados, que a Mónica adorava passar a mão, brincar com os seus muitos caracóis. Tinha uns olhos verdes e fascinantes, que estavam quase sempre escondidos por de trás de uns óculos não muito graduados. Sim! Para além de professor, Artur tinha mesmo aquele ar de intelectual. Um intelectual de óculos, com a armação partida mas nem para isso, ele queria agora gastar dinheiro.
Depois de ter cedido à preguiça de aparar a barba, Artur despiu os seus boxers de super homem e lá acabou por entrar dentro do chuveiro. E apesar de ser um homem de barba, Artur até nem tinha muitos pelos no corpo. Tinha alguns no peito, na barriga, nas pernas mas não era assim nada de especial. E ainda bem para ele, pois ele não era muito fã de pelos.
A água morna começou a escorrer pelo seu corpo e essa era uma sensação boa para Artur que começava a sentir algum alivio na cabeça. E com esse alívio, ele acabou por sentir uma necessidade que já começava a ser frequente nas suas manhas, enquanto tomava banho. Devido aos problemas familiares, Artur e Mónica já não tinham propriamente uma vida sexual há já algum tempo. Artur preferia até nem pensar há quanto tempo não tinha sexo com ela. Sabia apenas que já fazia alguns meses desde a ultima vez em que realmente tinha havido sexo e ele começava já a sentir falta desse momento a dois. Das vezes em que a Mónica regressava a casa e os dois dormiam juntos na mesma cama, muitas foram as vezes em que ele tentou mas o cansaço e a falta de vontade da Mónica, sempre fizeram com que ele recuasse. Mas Artur era humano. Era um homem como qualquer homem e por isso, havia dias em que a tal necessidade falava mais alto. E não! Nunca pensou trair a namorada apenas para aliviar-se dessa necessidade e oportunidades até nem lhe faltavam. No call center do trabalho, havia uma rapariga com quem ele dava-se muito bem e que por diversas vezes ela já tinha dado sinais de que estaria disposta a ir para a cama com ele mas não, Artur não era capaz. Sentia saudades do sexo, sentia saudades daquela boa sensação do corpo a corpo, sentia saudades de abraçar e beijar o corpo nu da sua mulher mas... enquanto o drama da sua mãe não chegasse ao fim, ele sabia que da parte da Mónica não iria conseguir satisfazer essa sua necessidade. Por isso, apesar de nunca ter sido muito frequente a pratica da masturbação ao longo de toda a sua vida, ao fim de um tempo, Artur começou a dar prazer a si próprio durante os banhos da manha. E essa era a vontade que ele tinha naquele momento.
Já com o seu pénis completamente erecto, Artur foi-se masturbando. Primeiro com movimentos mais curtos, a pensar na boca húmida e fresca da sua namorada. A pensar nos seus seios, que apesar de não serem muito grandes, eram o suficiente para ele imaginar em estar ali a agarra-los, beija-los, e a lamber os seus mamilos. E enquanto o seu pensamento estava perdido na beleza nua e crua da sua namorada, Artur começava a acelerar nos movimentos de prazer e enquanto se masturbava, imaginava a sua mão percorrer o corpo de Mónica até chegar aquele ponto mágico. Ao ponto maravilhoso que dava tanto prazer a ele, como também a ela. E só de imaginar passar a mão por ali, passar a sua boca e beijar aqueles lábios inferiores da Mónica, uns lábios carnudos e deliciosos, isso fazia com que ele sentisse ainda mais prazer nesse momento de sexo a solo. E quando os seus movimentos começaram a ser mais rápidos, quando ele sentiu que já estava perto de ter aquela explosão maravilhosa de prazer, algo estranho aconteceu nos pensamentos. Num rápido abrir e fechar de olhos, a imagem da Mónica nua e esbelta à sua frente evaporou-se por completo e o único pensamento que ele conseguiu ter naquele momento, foi o de Miguel a beijar-lhe os lábios. E não! Não um daqueles beijos rápidos e simples que Miguel tinha-lhe roubado na noite anterior. No seu pensamento, enquanto a sua mão massajava com prazer o seu pénis, Miguel beijava-o com muita intensidade. Um beijo em que a língua do jovem entrava na sua boca e brincava com a sua língua. Um beijo, onde com delicadeza Miguel mordia-lhe o lábio inferior. Um beijo quente, um beijo arrebatador e todo esse pensamento começou a fazer-lhe imensa confusão na cabeça. Artur ainda tentou apagar esse pensamento e voltar a ter a sua namorada à frente mas isso não foi possível. Artur ainda tentou parar aquele momento de masturbação, pois os pensamentos actuais estavam a dar-lhe nojo mas não, isso também não foi possível. Artur continuou e sentia que já estava quase, quase a vir-se mas não havia meio da Mónica voltar ao seu pensamento. Ali só havia espaço para um e esse um era o Miguel. Um Miguel que agora, para além dos beijos na boca, começava a beijar-lhe o pescoço, a beijar o seu peito, o seu mamilo, a sua barriga, o seu umbigo e Artur achou que já não conseguia mais evitar. Mesmo não querendo, era com a imagem de Miguel a beijar-lhe que ele ia concluir o seu momento de prazer. E essa imagem, tão forte que parecia real, continuava sem parar. Miguel beijava-lhe um umbigo e foi descendo pela sua zona pélvica e quando Miguel chegou lá... Artur não aguentou mais. Gemeu de prazer com aquele orgasmo maravilhoso que acabara de ter e vendo o seu muito esperma misturar-se com a água e a desaparecer pelo cano abaixo, Artur encostou-se à parede. Estava cansado mas estava bastante aliviado. Bastante satisfeito mas... estava também assustado. Confuso. Com nojo de si próprio e já não sabia mais em que pensar. Depois do prazer, veio a desilusão e sem saber o que fazer, apenas disse:
— Mas que merda foi esta?
CONTINUA...